quinta-feira, 19 de março de 2009

Valentina 170167

Até ao próximo sábado, dia 21, está patente na Galeria Pente 10, em Lisboa, na Travessa da Fábrica dos Pentes, às Amoreiras, a exposição Valentina 170167. Para quem conhece desde há uns anos o trabalho de Manuel Luis Cochofel, sabe da sua procura constante, da sua pesquisa e experimentalismo, seja sob o ponto de vista técnico seja estético. Por isso não são de estranhar os caminhos seguidos, numa abordagem do retrato visto de duas formas distintas nos dois espaços expositivos da galeria. 

No primeiro piso temos um conjunto de 16 imagens, fruto da apropriação do autor, de imagens publicadas na internet em sites de procura de parceiro para um eventual matrimónio. Ali se podem ver retratos de um acentuado erotismo (logo o rosto que abre a exposição à esquerda), lado a lado com outros cuja harmonia das cores nos empurram para décadas passadas, ainda que saibamos serem recentes. Cada imagem parece encerrar uma história, pessoal e sentida, com a qual o fotógrafo se envolve. Por vezes, a sequência da montagem faz-nos lembrar um bloco de notas, comparável à finalidade massificada dos sites de origem. O autor soube escolher as imagens e soube compreender o ponto de vista de quem coloca ali a sua melhor imagem à procura de parceiro. Por isso, aquela imagem de uma coluna de fumo se torna moralmente perturbadora para todos nós. Para além da trama do monitor que une as imagens, aprisionando-as num mundo que nos parece longínquo e que nos afasta dos personagens, há uma harmonia de côr, junta com uma tristeza que atravessa olhares e expressões e com cenários que por vezes nos parecem parados no tempo, que nos atraem do princípio ao fim desta exposição. Algo nos faz lembrar a arte pop, seja pela composição, seja pela côr.

No espaço da cave continua o questionar do retrato por parte do autor. Já não o retrato no sentido mais óbvio do termo, mas do que pode constituir o retrato de alguém. É o mundo da sua Valentina, num retrato psicológico por si idealizado. É também um olhar muito contemporâneo, sendo disso exemplo a imagem do cavalo ou a força gráfica do viaduto. Este conjunto, segundo o autor, "remete-nos para as memórias, os anseios, as pessoas com quem a sua Valentina se cruzou, para os seus anseios e fantasias".

Se esta exposição é o mundo de Valentina, também é verdade que constitui uma janela para um mundo fotográfico que vale a pena explorar. Por isso vale a pena ir vê-la e conhecer melhor este autor, que mantém uma procura incessante pelo objecto fotográfico. 

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