segunda-feira, 11 de julho de 2011

Às vezes é oportunismo, noutras é ignorância e noutras ainda é estupidez

opinião

Mais uma vez a propósito de concursos de fotografia. Faz-se um concurso e atribui-se um prémio. Deduz-se que à melhor fotografia ou ao melhor conjunto, com tudo que subjetivo que um concurso tem. Mas pronto, sempre foi assim e quem não concorda com os concursos, não concorre. Mas hoje recebi o regulamento do concurso de fotografia do Parque Biológico de Gaia, que convida a população de todo o país (sic) a participar. É premiada a melhor fotografia em seis categorias, naturalmente com um prémio. Mas como se está a tornar moda neste país, é um regulamento abusivo e de legalidade duvidosa onde “o Parque reserva-se o direito de eventualmente vir a publicar qualquer fotografia admitida a este concurso” dando-se como exemplo a revista ou o site do parque e eventualmente outros materiais de divulgação, não se sabendo quais, quando ou determinado por quem. Até podem os organizadores argumentar que sua intenção é pura e inocente, mas a verdade é que este é um expediente cada vez mais usado, por entidades públicas e privadas para, de forma barata, ter imagens variadas sobre um determinado tema. É também ilegal como muitos deveriam saber, e só quando os processos lhes caem em cima por causa de “pequenos nadas” de português é que acordam e contratam advogados. Normalmente os resultados são sofríveis, mas isso pouco interessa porque o público não distingue e quer é cor e imagens espetaculares. E as entidades organizaram mais uma atividade da qual as hierarquias não lhes pedem contas quanto a resultados efetivos. O que é que se ganha com um concurso? No mínimo uma atividade para o relatório anual, no máximo um banco de imagens. A culpa é também dos fotógrafos profissionais, que por vezes fazem trabalhos sem qualidade, apressadamente. A culpa é igualmente das entidades, que impõem roteiros impossíveis de cumprir, em prazos irreais com orçamentos surrealistas. Por vezes nem se tem em conta as contingências da meteorologia. Isto leva-nos à ignorância. Compreender um espaço, compreender a natureza, passar uma mensagem é muito mais do que uma fotografia de paisagem. Por último leva-nos à estupidez. Quem redigiu o regulamento pede aos concorrentes, se possível é certo, a indicação da marca e do modelo da máquina fotográfica, algo fundamental para a expressividade estética (cuidado com o “modelo” das pinholes), a abertura, a exposição e o ISO, sendo que aqui além de estupidez é ignorância. A exposição é composta pela relação abertura-velocidade-sensibilidade. É preciso que os concorrentes indiquem também a distância focal usada. Para quê? Isso ajuda a classificar uma imagem? Eu já questiono um concurso em arte, mas será que uma imagem feita com uma 18 mm é mais expressiva que outra feita com uma 20 mm? Só por isto, este é um mau serviço à Fotografia.

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