terça-feira, 16 de março de 2010

Ver a Norte

Quem esteja do Porto tem a possibilidade de ver, ou ter visto, algumas boas exposições. A Fundação Cupertino de Miranda apresentou, desde Novembro a finais do passado mês de Fevereiro, Fernando Lemos – fotografia, uma mostra dos caminhos do surrealismo percorridos por este artista nos finais da década de cinquenta do século XX e, ao mesmo tempo, uma das mais importantes exposições para recordar pedaços da História da Fotografia em Portugal. Através dela, pode-se fazer uma incursão ao surrealismo em Portugal, feito da provocação aos gostos e à moral burguesa, onde o absurdo, o burlesco e o surreal imperam, a par com o prazer do acaso, do risco estético e da exploração de novos temas, encontram suporte na subversão técnica da fotografia.

Há dias inaugurou A Luz da Sombra, patente até Junho na Fundação de Serralves, espaço onde, até há pouco tempo esteve uma retrospectiva de Augusto Alves da Silva, que merece referência pela sua qualidade estética e fotográfica. A Luz da Sombra é uma exposição que reúne antologicamente, pela primeira vez, os trabalhos de Lourdes Castro e de Manuel Zimbro, companheiros e colaboradores na vida e no trabalho durante mais de três décadas. 
Manuel Zimbro, falecido em 2003, vê aqui apresentadas diversas obras individuais ou realizadas em conjunto com Lourdes Castro, que parte das suas pesquisas sobre a sombra de flores, pessoas e objectos para construir uma obra singular com a qual redefine uma relação da obra de arte com o mundo de que faz parte.

Por seu turno, no Centro Português de Fotografia, na antiga Cadeia da Relação do Porto, está patente a exposição “Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a Ditadura (1891-1974)”, que se prolonga até Outubro deste ano. É um misto de uma exposição de fotografia, na qual se destaca o trabalho notável de Aurélio Paz dos Reis, fotógrafo e introdutor do cinema em Portugal, com uma excelente lição de História, neste ano que se comemora o centenário da República. Esta exposição retrata rostos e momentos da Primeira República, mas também os momentos difíceis da luta pela Liberdade após o golpe militar de 1926. Constitui uma exaltação da acção e dos ideais de muitos homens e mulheres que, por vezes com a vida, pagaram um tributo em prol do Bem Comum. Quanto mais não seja, esta exposição constitui um momento de cidadania e reflexão sobre a nossa participação na sociedade e, por isso e pela fotografia, merece a nossa atenção.

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