sábado, 9 de abril de 2011

Estamos todos loucos?

opinião

Quando li a notícia no Expresso desta semana nem queria acreditar. Procurei confirmar e, no Público, lá estava ela. O Jornal de Negócios também publicou. Os jornais italianos também. Depois de, em toda a Europa, os Estados se terem vergado à deusa economia, pondo a célebre questão do déficit à frente do bem estar dos cidadãos,... só nos faltava mais esta – o Coliseu de Roma tem uma gestão privada!

O Coliseu, um dos mais importantes monumentos do mundo e da civilização europeia passa a ser gerido por um privado, dono de uma cadeia de calçado. A Tod’s e Diogo Della Valle ficam com a exclusividade da imagem do monumento durante 15 anos a nível planetário (é mesmo verdade – a nível planetário, portanto atenção fotógrafos, mesmo os que são de Marte ou vivem na Lua). A partir de agora, se alguém quiser usar a imagem do Coliseu para qualquer fim que não seja privado, terá de pedir a autorização e pagar os direitos á Tod’s. Em troca, esse privado deverá arcar com os custos de reabilitação, orçados em cerca de 25 milhões de euros e poderá colocar o seu logotipo em andaimes e nas entradas do monumento. O valor dos bilhetes de entrada, os direitos de imagem, naturalmente revertem para a nova gestão.

Não criticamos uma empresa privada por procurar fazer um bom negócio. Criticamos o Estado, onde deveria haver uma preocupação pelo Bem Comum. Claro que poderiamos questionar a forma como um privado fará a reabilitação artística e cultural de um bem como este. Claro que poderíamos perguntar sobre a real função do Estado. Claro que numa lógica de igualdade de direitos concorrenciais muitas outras empresas podem reivindicar outros sítios e monumentos, que pela sua diferenciação também poderão ter uma diferença de valor. O presidente da Câmara de Roma afirma que quem estiver contra este acordo ou é louco ou não gosta de Roma. Mas,... e o Estado? A razão de tudo isto reside no facto de os orçamentos para a cultura serem cada vez mais curtos, do(s) Estado(s) não terem dinheiro e até do facto de aceitarmos isto com naturalidade.

Não se conhece ainda o alcance real deste contrato e isto parece que se passa lá longe, para lá dos Pirinéus. Mas como pensaríamos se o Estado português cedesse os direitos do Mosteiro dos Jerónimos, da Batalha ou da Torre dos Clérigos? Porque não privatizar o Alhambra? Porque não instalar um pequeno centro comercial na Notre Dame, que custa tanto a manter? Estamos todos loucos? Vale tudo em nome do dinheiro?

3 comentários:

  1. Gostei do pormenor da fotografia do Coliseu de Roma ;)
    Jorge Cabral

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  2. Se pensa que isto não acontece no nosso País está muito mal informado! Já fui proibido de fotografar o Padrão dos Descobrimentos pois estava a usar um tripé. O argumento do segurança era que dentro do perímetro delimitado pelas correntes era proibido pois a imagem do monumento tinha direitos. Se procurar perto dali, há-de verificar que também o Mosteiro dos Jerónimos tem a imagem protegida por "direitos". Informe-se no IPPAR...

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  3. Acho que vão fazer o mesmo com Portugal mas estão com dificuldades na rentabilização da coisa ...

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