domingo, 27 de dezembro de 2009

2009 - balanço de um ano de crise

O ano de 2009 chega ao fim com alguns motivos de reflexão. Neste ano que agora finda sentiram-se mudanças no mercado da arte, mudanças que não deixaram incólume a fotografia. O grande gigante oriental que é a China, depois de se tornar uma força incontornável na política, na economia e na questão ambiental, assume-se igualmente como o terceiro mercado mundial da arte. Fotógrafos chineses são cotados nos mercados de arte internacionais e expõem em grandes galerias de Londres, Nova Iorque ou Paris. Concertado ou não, este movimento demonstra visão política e pragmatismo cultural, sabendo-se que a cultura é uma forma de afirmação política com retorno económico. Que bonito seria que uma qualquer instituição cultural portuguesa, eventualmente dependente do Ministério da Cultura, tivesse uma efectiva política de promoção dos artistas nacionais, muito para além da atribuíção de subsídios e muito mais de resultados a médio prazo no mercado internacional da arte. Como primeiro passo bastava parar para pensar.


É certo que em 2009 a euforia especulativa deu lugar à prudência, fazendo com que alguns valores artificialmente inflacionados se tenham reduzido até ao seu valor real, num paralelo com a discrição adquirida por algumas das fortunas do leste europeu. Na fotografia aconteceu o mesmo. Em resumo, o risco foi trocado pelos valores seguros, o que foi acompanhado pelas instituições bancárias que hoje estão menos disponíveis para investir em arte ou conceder empréstimos para esse fim. Alguns coleccionadores particulares e Fundações retraíram-se nas suas compras e investimentos, apesar dos coleccionadores serem hoje quem comanda o mercado.


Será que vivemos uma situação de crise na arte e no coleccionismo? É claro que não. Trata-se apenas de uma purificação do mercado, em que a falta qualidade se esfuma e se mantém apenas o que realmente tem valor.  Deveria também fazer pensar todos os fotógrafos, alguns dos quais na net e nas revistas pensam “fazer arte” ou ficam surpreendidos pelo facto de não venderem o que esperam quando expõem numa parede. Não é também uma situação nova, ocorrendo ciclicamente, o que faz com que muitos dos que chegam às galerias e ao coleccionismo mais baseados na força dos euros em vez dos conhecimentos sejam duramente castigados, lembrando a quem compra e a quem vende o valor da seriedade do trabalho e da qualidade. É também o momento em que o mercado fica mais limpo e vale a pena investir.  É evidente que este ambiente de cautelas tem consequências na procura de novos criadores, na vitalidade dos agentes culturais ou na vida económica das grandes feiras de arte. Ou seja, a instabilidade do mercado tem consequências nos criadores, que não só vendem menos, como se mostram menos motivados à criação, quer pela queda nas aquisições quer pela menor disponibilidade psicológica. Claro que há excepções  quando vemos em Lisboa o Museu Berardo a apresentar obras da sua colecção com She is a Femme Fatale – um novo percurso pela Colecção Berardo ou quando vemos a Galeria Baginski a expandir as suas instalações e a sua carteira de fotógrafos. São esses gestos que nos levam a acreditar que 2010 será um ano melhor que 2009. 

 

1 comentário:

  1. Gosto da forma como encaram os fotógrafos - com respeito. Parabéns.

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