quinta-feira, 30 de junho de 2011

Marilyn Monroe: a última sessão

exposições crítica

No ano em que Marilyn Monroe celebraria 85 anos, a Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais apresentam, no Centro Cultural de Cascais, Marilyn Monroe: A Última Sessão. A exposição, que reúne 60 fotografias daquele que foi o último ensaio fotográfico da actriz, realizado apenas seis semanas antes da sua morte em 5 de Agosto de 1962, está integrada num périplo onde sobressaem as exposições de Paris, Rio de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque, Seul e Londres. Apesar da sessão fotográfica ter decorrido em Junho de 1962, o fotógrafo Bert Stern guardou os negativos durante vinte anos. Apenas em 1982 revelaria a maioria das 2.571 imagens com a publicação do livro The Last Sitting. Adquiridas pelos coleccionadores nova-iorquinos Leon and Michaela Constantiner, as fotografias seriam posteriormente incluídas numa exposição colectiva.

Esta é uma exposição que vale a pena ver, por muitas e variadas razões. Patente ao público até 17 de Julho, A última sessão é um dos mais significativos trabalhos de Bert Stern. Nascido em Nova Iorque, em 1929, Bert Stern é um dos grandes fotógrafos norte-americanos, com trabalho nas áreas da publicidade, moda e retrato, sendo principalmente o retrato de celebridades como Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor ou Madonna que o tornaram conhecido do grande público. A sessão fotográfica The Last Sitting com Marilyn Monroe representou um marco na sua carreira, com imagens únicas e desinibidas da actriz, que ajudaram a criar o mito.

Ao visitarmos a exposição podemos observar a qualidade estética destas imagens feitas de momentos únicos. Há expressões e olhares que são mesmo momentos únicos, nem um segundo antes do tempo, nem um segundo depois. Aliás, só por isso esta é uma grande exposição de retrato, onde o timing de disparo, tão perfeito, constitui uma excelente lição de como bem fazer retrato. É verdade que Marilyn ajudou. As poses soltas, o sorriso e as expressões naturais são de alguém habituada a enfrentar as câmaras. Mas o fotógrafo podia não ter aproveitado esses momentos e a verdade é que não falhou, estando o resultado está bem á vista com imagens cheias de naturalidade e de uma intimidade expressa nos olhares e nos sorrisos. Imagens simultâneamente belas, para as quais contribui uma excelente impressão, executada segundo os cânones laboratoriais da época, suaves, que se adequam á iluminação da sala. Uma palavra também para a montagem, recorrendo a padrões qua dão ritmo à exposição, que mediante o agrupamento das imagens levam o visitante a conhecer momentos diferentes da sessão, mesmo que fictícios. Ainda na montagem note-se a forma como o espaço livre da sala é necessário para o recuo de acordo com as dimensões das imagens, algo por vezes esquecido, e a harmoniosa articulação entre as captations e as imagens.

Esta é também uma exposição para nos fazer refletir sob o ponto de vista estético. Rompendo com a iluminação hollyodesca até aí praticada, Bert Stern neste trabalho opta por iluminações suaves onde é notória a ausência de grandes manchas de sombra, como até aí era comum. Aliás, este sentido de inovação é também expresso no uso da cor, pouco comum na época por não estar ao alcance de todos os fotógrafos, ainda que há muito existisse. É também inovador sob o ponto de vista estético a relação que transparece entre entre Marilyn e o fotógrafo, uma relação íntima, de olhares diretos e cúmplices, por oposição à forma como até aí eram retratadas as divas do cinema, distantes, num mundo fechado pela iluminação e pela expressão.

A exposição é acompanhada de um catálogo, bilingue e com textos interessantes. O mesmo não se pode dizer quanto ao grafismo. Numa primeira análise pode parecer leve e agradável de folhear, mas quando o vemos com mais atenção observamos uma muito discutível apresentação das imagens, já que algumas se apresentam reenquadradas, onde certos pormenores das imagens originais foram deixados de fora ou foram assumidamente reenquadrados, e com uma impressão demasiado dura que não respeitou a suavidade das imagens, para além de irregular, com imagens com excesso de amarelo e outras com demasiado magenta.

Uma última palavra para a Fundação D. Luis I e para a Câmara Municipal de Cascais. Não é comum, infelizmente, uma autarquia ter tanto cuidado com as suas exposições fotográficas nos seus espaços. Por isso é sempre justo salientar este aspeto que não se resume a uma boa realização, mas que vai para além disso e que se torna uma bitola para iniciativas semelhantes.

Como dissemos, até 17 de Julho, a não perder no Centro Cultural de Cascais.

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