segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paris Photo 2010

Terminou ontem mais uma edição da Paris Photo. Um mar de gente visitou a feira que reuniu algumas das mais significativas galerias de fotografia que até ontem, domingo, já tinha recebido mais de 40 000 visitantes, segundo números não oficiais. Esta foi também uma feira onde se destacou a presença de artistas da Europa central e onde as galerias norte-americanas sublinharam a sua presença. A França tinha presentes 26 galerias e os Estados Unidos 18. Destaque ainda para algumas iniciativas integradas na Paris Photo, como o prémio BMW, destinado a apoiar a criação contemporânea, o Concurso Jovens Talentos, destinado a fotógrafos emergentes, diversas conferências e ainda a exposição da Leica, pela selecção de 12 imagens de 12 fotógrafos utilizadores desta marca.

O ambiente vivido nesta feira foi um misto de curiosidade, por parte de muitos fotógrafos, ávidos de conhecer as novas tendências e de negócio, com muitas das galerias a marcar a sua presença, divulgando o seu trabalho e dos fotógrafos que representam. Se algo fica no ar para quem visitou esta feira é a abrangência sem preconceitos das propostas apresentadas, a par com uma cultura fotográfica digna de registo. Nos nomes apresentados não há espaço para o acaso ou o erro, ainda que seja visivel uma inovação sem preconceitos, que roça o risco, a par de uma cultura visual por parte de qualquer dos fotógrafos representados. Hoje, neste tipo de eventos, fotógrafo que queira vingar tem de ter uma sólida base cultural e de educação visual. Mais, tem de ser criativo e compreender o que se passa no mercado da arte mundial, porque aquilo que vamos fazendo por cá, na maioria dos casos, já não tem lugar nos circuitos mundiais da arte. Com uma tendência marcada pela imagem descomprometida mas sentida e suportada num conceito pré-definido, no uso da cor e na exploração estética da escala, exige-se hoje que o fotógrafo se assuma como um artista, bem mais do que um executante, muito mais do que alguém desligado do meio e essencialmente uma referência cultural e artística.

Alguns nomes impressionaram-nos pela qualidade estética do seu trabalho, pelo seu domínio técnico e pela apresentação cuidada que ia desde a iluminação das obras às impressões em papel de uma qualidade irrepreensível. Numa feira onde cabiam imagens do século XIX, referência para a qualidade da apresentação da Galeria Daniel Blau, de Munique, especializada em imagens do século XIX, ou da nova-iorquina Hans P. Kraus Jr., que nos apresentava um conjunto de calotipos franceses datados de 1843 a 1860. Num âmbito mais recente, não podemos deixar de destacar a modernidade do olhar do fotógrafo israelita Nadav Kander com as suas paisagens nebuladas (Galeria Flowers - Londres), a forma de trabalhar a escala de Michael Eastman em interiores da renascença italiana (Galeria Barry Friedman – Nova Iorque), a criatividade conceptual de Marina Abramovic numa homenagem a Santa Teresa de Ávila (Galeria La Fabrica – Madrid), as paisagens arrebatadoras e modernas de Raymond Depardon (Magnum Gallery – Paris), a luz e a tridimensionalidade das imagens de Paulette Tavormina (Robert Klein Gallery – Boston) ou ainda os retratos sentidos e cheios de carinho de Vanessa Winship, representada por uma galeria dos Emiratos Árabes Unidos (The Empty Quarter – Dubai), com um conjunto de interessantes autores cujo trabalho está virado para a exploração da dimensão fotográfica do mundo árabe. Por último, uma vez mais a referência à Pente 10, galeria de Lisboa, presente na feira e que desde há alguns anos aposta na internacionalização, que em Paris apresentou, entre outros, trabalhos de Paulo Nozolino, Rita Barros, Fernando Lemos e João Cutileiro.

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