segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Jam Session

No Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Barreiro, está presente Jam Session de Nica Paixão. É uma exposição pequena, mas interessante e que vale a pena. Ainda mostra as ingenuidades de quem está a começar, nomeadamente num ritmo expositivo com alguma monotonia, mas demonsta cuidado, respeito pelo público, paixão pela fotografia e responsabilidade em expôr. Realce para a boa impressão, para a iluminação do espaço e até para a encenação visual, num espaço onde a côr ajuda a realçar as imagens.

A leitura do texto que acompanha a exposição ajuda-nos a compreender a exposição, sendo notável a relação entre as imagens e o texto do catálogo, um aspecto a ter em atenção por parte de muitos artistas que expõem. O texto é da autoria de José Oliveira, formador em fotografia e comissário de algumas exposições. Pela sua qualidade, e com a devida autorização, transcrevemo-lo aqui.

“O retrato em fotografia é uma das suas formas mais recorrentes e diversas.

A seriação de August Sander, a plasticidade da iluminação em Helmar Lerski, a dinâmica das múltiplas exposições de Fernando Lemos, ou a desconstrução da identidade em Thomas Ruff, são alguns dos eixos de desenvolvimento que demonstram o vasto campo da fotografia de retrato.

No caso do presente trabalho as questôes da identidade estao obviamente presentes, mas vão um pouco mais longe, porque se trata também da cumpllcidade, do trabalho, da profissão, do fazer música - no caso, o Jazz o que torna tudo mais complexo.

Como juntar dois instrumentos complementares, o piano e o contrabaixo, num dueto de imagens? Como estabelecer esse diálogo? Como perceber as características diferentes dos dois instrumentos? Como estabelecer a relação músico-instrumento? Como juntar tudo isso num todo coerente?

A solução encontrada pela fotógrafa foi a de estabelecer duas séries distintas, uma de dipticos (piano) e outra de imagens "solo" (contrabaixo).

A riqueza tímbrica de um piano, a complexidade do instrumento, a própria dimensão e presença fisica, obrigava a um certo destaque em termos de imagem, mas isso nao poderia significar distanciamento em relação ao músico - daí os dípticos - que mantêm essa relacão de proximidade.

Por outro lado o contrabaixo envolve uma relação demasiado íntima com o instrumento, que é literalmente abraçado pelo músico. Este encontro e proximidade não se compadecia com dípticos, e a solução de imagens "solo" era a (mica possível neste caso).

Deste modo, o conjunto de imagens apresentado abre com um enunciado de desconstruçao, nos dípticos, para passar a uma sublimação nos "solos". Uma figura da música de Jazz em que, aparentemente, um dos instrumentos gera um desequilíbrio necessário à construçào de uma frase musical complementado pelo outro.

É importante notar que é a fotógrafa que agora se assume como compositora dessa frase musical, gerando os desequilíbrios na primeira série, para, na segunda, participar intensamente no momento da criação quase anulando~se pela intensa proximidade, e deixando ao instrumentista a capacidade de interpretar livremente essa cumplicidade na procura de um reequilibrio.

Esta abordagem particular da fotógrafa só pode ser compreendida na base de uma elevada sensibilidade musical, de uma enorme cumplicidade com os músicos, e de um trabalho intenso na área da fotografia e da cultura visual.”

3 comentários:

  1. Gostava de ver esta exposição.
    Onde está? Até quando?

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  2. Pedimos desculpa pelo nosso lapso e iremos corrigir no texto. A exposição está no Auditório Augusto cabrita, no Barreiro, e estará patente ao público até dia 1 de Novembro.

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  3. Pelo que apurei, Nica paixão é fruto da aprendizagem da escola mef. Parabéns à autora e ao movimento. Vou acompanhar o trabalho desta fotógrafa com atenção.

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