sexta-feira, 12 de junho de 2009

Pinocchio

Pinocchio, de Jorge Molder, apresentado na Galeria Chiado Espaço 8 (Fidelidade Mundial) é, ao mesmo tempo, uma exposição perturbante, intrigante e excelente. Numa sala que encanta, onde predomina o branco e a pedra, as imagens parecem observar o visitante que ali entra, como se de um intruso se tratasse num espaço que é delas por natureza. São imagens que nos transmitem tristeza e interrogação e, simultaneamente, distância. O artista, partindo de máscaras e moldes da sua cabeça e mãos, cria momentos únicos no tempo como se de expressões reais se tratasse. Como se a imagem de algo parado no tempo dependesse da fracção de segundo invocada pelo obturador da máquina. Os olhos fitam-nos em intrigantes estados de alma que nos tocam. Em termos da relação do objecto com o público, este é um trabalho que vai muito mais longe nessa interacção do que outros anteriores, veja-se por exemplo Luxuri Bound, onde reúne o essencial da sua obra fotográfica, incluindo os trabalhos da série Nox apresentados na 48ª Bienal de Veneza, em 1999.

Com uma impressão irrepreensível, com uma dimensão adequada e com um suporte muito bem escolhido, papel de aguarela espesso que nos lembra o gesso dos moldes, o autor oferece-nos uma excelente distribuição no espaço, jogando com a arquitectura do local numa dualidade de presença/ausência de imagem, mostrando-nos a importância de uma montagem cuidada e pensada para aquelas imagens. A ideia da colocação das imagens directamente sobre a parede é interessante porque a textura se confunde com a parede. No entanto o resultado final fica prejudicado sob o ponto de vista do visitante, onde num dia de calor se levantam e encaracolam as pontas de algumas imagens. É verdade que o ambiente criado pelas imagens não suporta uma moldura, mas há outras opções que não o papel directo sobre a parede, ainda que seja uma moda muito em voga nos últimos tempos. No entanto trata-se de uma excelente exposição que vivamente aconselhamos, ou não fosse mais um trabalho de Jorge Molder. Por último uma palavra para o catálogo que acompanha a exposição, ao preço simbólico de 1 euro, onde se destaca um excelente texto do que é e de como se faz (pensa) a fotografia.

2 comentários:

  1. é uma das exposições que vale a pena ver em lisboa

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  2. Concordo, o sentimento que parece extravazar das imagens é de uma grande tristeza.
    Não deixa de ser curioso (ou não), o facto de ser um tema eternamente actual...

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