quinta-feira, 14 de julho de 2011

O PREC já não mora aqui

exposições divulgação

O PREC já não mora aqui, de João Pina, está patente no Centro Português de Fotografia de 24 de julho até 25 de setembro. O texto do autor é não apenas uma reflexão sobre a História, mas também uma postura de cidadania que vale a pena salientar.

“Ao longo de várias semanas, na estrada, à procura daquilo que foi o processo revolucionário em curso (PREC), nos anos 1974/75, que culminou na reforma agrária e no “sonho” de um estado socialista na Europa Ocidental, reconheci no Alentejo de hoje uma região espelho de Portugal, “um país sem memória”. Quando explicava às pessoas da minha geração o que estava a fazer, sobre os lugares míticos do PREC e da reforma agrária, nem sequer sabiam o que tinha acontecido na sua própria terra, e isso demonstra que nascemos num país sem uma preocupação colectiva de preservar a memória dos eventos históricos do nosso passado recente.

Continuamos prisioneiros da nossa história longínqua, da eterna grandeza da época dos descobrimentos, sem olharmos para o que hoje nos identifica como país no mundo, que nos fez chegar onde chegámos para assim podermos entender o que nos acontece no presente e pensar no futuro.

Foi uma enorme honra poder ter conhecido alguns dos actores principais de um período tão importante na região do Alentejo. Estou profundamente agradecido a todos por terem decidido partilhar a sua história e deixarem-se fotografar, sem terem feito para isso qualquer exigência ou condicionamento. Assim, o balanço desta experiência para mim tão enriquecedora, é que o Alentejo tem um potencial social, económico e político que se tem desenvolvido lentamente mas a passo firme.

Sinto que apesar de quase todos os “sonhos de Abril” terem desaparecido com o fim do PREC, os poucos exemplos que restam souberam adaptar-se nos dias de hoje a uma economia de mercado, e que as preocupações políticas das pessoas que conheci não ficaram fechadas em ideais ortodoxos e ultrapassados.

Se voltarmos a olhar para estes espaços daqui a alguns anos, creio que continuaremos a encontrar pessoas com valores fortes, que discutem as suas ideias e lutam pelo que acreditam, faça isso parte de um sonho colectivo ou não.

Acho que a democracia é o sonho mais bonito que o Alentejo possa estar a viver.

João Carvalho Pina

Março de 2011”

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