quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dias úteis


Dias Úteis, de Catarina Botelho, está patente em Lisboa, na Rua da Anchieta, na antiga sede da Editora Bertrand. É uma exposição que espelha o prazer de fotografar, um prazer descomprometido, sem encenações, solto no olhar, longe de formalismos estéticos, sem no entando deixar de se perceber uma educação do olhar que marca todas as imagens. É essa educação do olhar que nos evoca o cinema ou a pintura (mesa da cozinha – 2009), num misto de sensações que o espaço, despido e degradado acentua.

As imagens funcionam como momentos de um filme íntimo, e sublinho filme, porque há nelas qualquer coisa de cinematográfico, seja na composição, nos pontos de vista ou até na luz (Yanie a sair do banho – 2009 ou Luisa a dormir – 2008). É também a beleza da iluminação que ajuda a acentuar o carácter intimista de todo o conjunto, onde um olhar moderno se combina com uma boa impressão e com um domínio claro da técnica (Maria no jardim – 2008 ou Joana e Alice – 2008).

Uma palavra para a montagem. A escolha do espaço resulta em pleno. Falamos de uma casa e é precisamente numa casa com escadas, salas e cozinhas onde as imagens são apresentadas e não numa galeria, com longas paredes brancas. É como se transportássemos uma habitação, com cores, paredes e recantos, para uma galeria. Resulta igualmente a ideia de uma fotografia por sala, conferindo a cada imagem um valor absoluto, onde se sublinha cada momento e este vale por si só e não em função das restantes imagens para a sua leitura, ainda que exista no conjunto uma sensação de continuídade e de percurso, não apenas fisico mas também de emoções. Na verdade cada fotografia e cada sala marcam um território definido como se de um momento específico se tratasse. E é a importância deste momento e não as pessoas que faz com que raramente damos atenção aos rostos, sendo os espaços e os objectos desses espaços bem mais importantes. Às pessoas fica reservada a poesia dos gestos ou da luz.

Talvez o aspecto menos conseguido desta exposição resida na forma como as fotografias são presas à parede. Esta moda “dos preguinhos”, agora muito comum em Lisboa, é uma abordagem interessante enquanto postura estética, mas implica a manutenção da exposição. Ao fim de alguns dias as imagens são vistas não esticadas e planas mas em superfícies mais ou menos onduladas, em função do peso do papel, do calor e da humidade. Por outro lado, um dos aspectos interessantes desta exposição é o espaço. A escolha resulta muito bem com as imagens em si e com o que elas nos querem contar, devendo fazer-nos pensar em quantos espaços do género poderiam ser usados para fins semelhantes. Um edifício pombalino com o seu cachet, onde a luz entra generosamente, onde advinhamos paredes, corredores e vida, não poderia ser melhor escolhido como cenário desta exposição, patente até 18 de Julho.

2 comentários:

  1. Obrigado por me terem indicado este blogue. Vou segui-lo com muita atenção e destacá-lo no meu prórpio blogue.
    Parabéns

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  2. Esta ideia de levar exposições a espaços alternativos é interessante, especialmente para quem está a começar, para quem não consegue chegar a algumas galerias ou simplesmente para trabalhos que esteticamente resultem melhor nesses locais em alternativa a espaços formais. Já fui visitar esta exposição e penso que ela se enquadra nestaúltima situação - é o local ideal para este tipo de imagens não só em termos estéticos, mas também no que se refere ao percurso artístico da fotógrafa. Parabéns.

    antonio - setúbal

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