segunda-feira, 6 de julho de 2009

World Press Photo


Até 19 de Julho, no Museu da Electricidade, em Lisboa pode visitar a exposição da World Press Photo e verá que vale a pena. Confesso que não era um fã da Word Press Photo, no entanto, este ano fiquei rendido à exposição, e isso aconteceu porque ela mudou, para melhor, sublinhe-se. Em primeiro lugar este ano destaca-se a importância de cada imagem, havendo menos painéis com várias imagens em detrimento de painéis com uma só imagem. Em segundo lugar a leitura das imagens ganhou, já que o texto que as identifica é legível a uma distância que permite visualizar correctamente a imagem, evitando a dança de apreoximar para ler o texto e afastar para ler a imagem. Em terceiro lugar, e talvez o mais importante, a exposição da World Press Photo entrou em caminhos estéticos muito mais contemporâneos. A certa altura não distinguimos se estamos a ver imagens de jornalismo ou se estamos numa qualquer galeria. E isso é bom, porque a fotografia apresentada acentuou os caminhos de modernidade que nos últimos anos experimentou, mostrou olhares novos e conquistou um novo patamar de qualidade. Juntemos ainda uma outra alteração, eventualmente decorrente da estética, que é o facto de cada vez mais haver lugar para o suscitar de questões por quem vê estas imagens, para cada um descodificar as imagens apresentadas, seja pela linguagem estética, seja pelo momento, seja pela composição, já não indiscutivelmente subordinadas ao momento, mas rivalizando de importância com este. Em alternativa à passividade, propõe-se agora uma relação dinâmica com dois sentidos entre a fotografia e o público. Também é verdade que deveríamos olhar com atenção para aquelas imagens. Não vemos daquilo nas páginas dos jornais portugueses, talvez porque os fotógrafos nacionais visitam pouco as exposições, talvez porque os fotógrafos correm de uma conferência de imprensa para um incêndio, já a pensar na entrevista que vão fazer a seguir, num roteiro que contraria as leis da fisica que dizem ser impossível estar em dois locais diferentes à mesma hora, talvez porque os jornais cada vez mais desvalorizam mais a profissão, recorrendo a mão de obra gratuíta e altamente rotativa, talvez porque precisamos de editores cultos que vejam exposições, e ainda um sem número de outras razões, se calhar não menos importantes.

A World Press Photo é bem mais do que esta exposição que nos visita anualmente. É uma organização independente, sem fins lucrativos, fundada na Holanda, em 1955. A sua inicial tarefa de apoiar e divulgar internacionalmente o trabalho dos fotógrafos de imprensa alargou-se e hoje funciona como uma plataforma independente de fotojornalismo, promove o livre intercâmbio de informação e envolve-se em diversos projectos de formação de fotojornalistas, colocando em contacto os mais veteranos da profissão com muitos fotógrafos
recém-chegados à profissão. Por isso não admira o quanto deve ter sido difícil seleccionar estas imagens de um conjunto de cerca de noventa e seis mil que estiveram em concurso, envolvendo mais de cinco mil e quinhentos fotógrafos. Todos os premiados apresentam grandes trabalhos, quer em termos estéticos quer em termos da função do fotojornalismo – a notícia. Mas se quiséssemos destacar alguns nomes não poderíamos deixar de mencionar a modernidade dos olhares de Jérôme Bonnet, de Roger Cremers ou de Massimo Siragusa, este muito especialmente pelo trtamento da côr e pela forma como relaciona o olhar com o objecto registado, de Gleb Garanich e Kevin Frayer pela emoção que colocam nas suas imagens, ou ainda de Steve Winter, com as magnificas imagens feitas para a National Geographic que desarma todos aqueles que pensam que fotojornalismo é apenas e só sinónimo de guerras e morte. Alguma coisa está a mudar no fotojornalismo internacional e prova disso é o interessante trabalho de Carlo Gianferro, enveredando por universos kitch que há uns anos não seriam admissíveis na imprensa, ou a imagem de Michelle Obama descansando sobre o ombro do marido, onde não é a apenas importância do momento que se destaca, mas também a luz fantástica que Callie Shell consegue captar. E poderíamos continuar a referenciar alguns dos fotógrafos ali presentes como a contemporaneidade de Brenda Ann Kenneally ou a composição perturbadora de Yassuy Oshi Chib quando retrata os guerreiros Massai. Esta é pois uma lição de fotografia contemporânea e não há desculpas para a não visitar, mesmo para quem é de fora de Lisboa ou diz que a cultura é cara – está aberta ao fim de semana e a entrada é gratuíta. Juntemos ainda o facto de a apresentação em Portugal ser uma aposta ganha. O espaço é fantástico, a exposição está bem organizada, o grafismo dos painéis é leve e valoriza as imagens, as impressões são excelentes e a iluminação adequada.

Entretanto, se quiser saber mais sobre a World Press Photo, então dê um salto a www.worldpressphoto.org . Como atrás escrevi, alguma coisa está a mudar no fotojornalismo internacional e há que estar atento!

1 comentário:

  1. Aqui podem ler-se análises consistentes às exposições. Com elas podemos aprender e reparar com mais atenção em alguns aspectos das exposições. Parabéns.

    Lina

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