quinta-feira, 6 de maio de 2010

Lisboa à beira Tejo (Padrão dos Descobrimentos)

Até 30 de Junho pode ver Lisboa à beira Tejo, apresentada no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Ali podemos encontrar um conjunto de impressões “vintage” a par com novas edições digitais, onde Lisboa e a sua relação com o Tejo nos é apresentada sob a forma do trabalho marítimo, do trabalho nas docas, na azáfama das varinas ou na utilização do rio como cenário de eventos como a Exposição do Mundo Português. A primeira coisa que salta ao olhar no início da exposição, onde se apresentam provas de época, é o cuidado posto na iluminação de forma a preservar as imagens expostas.

As imagens apresentadas recuam até 1860, numa altura em que a fotografia em Portugal dava os primeiros sinais de maturidade. Referenciada na imprensa logo em 1839, ano da sua apresentação pública em Paris, conhecem-se imagens e fotógrafos a trabalharem em Portugal logo no ano seguinte. No caso de Lisboa, o rio e a sua vida foram motivos de interesse para inúmeros fotógrafos, amadores e profissionais, inspiradores das suas “vistas” que se vendiam nos depósitos de imagens, reunidas nos álbuns fabricados à medida ou apresentadas nas “carte de visite” a par com os retratos dos ilustres do reino.

É impossível passar por aquelas imagens e não sentir ternura por aquela Lisboa, hoje já só saudade, mas que demonstram uma escolha cuidada. Tal como cuidada é a componente da arquitectura do espaço, sóbria de forma a não se sobrepor às imagens, com um ritmo interessante, dividida por blocos temáticos que transmitem uma unidade em cada grupo, que por seu lado valorizam o conjunto apesar do grande número de imagens presentes. Aqui, segundo a organização esclarece no folheto de apoio à exposição, optou-se por apresentar as imagens mesmo que deterioradas, tal como se encontram guardadas Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, sem intenção de disfarçar as marcas do tempo ou da sua utilização. É uma opção hoje usada em museologia e em diversas exposições, demonstrando com isso o carácter genuíno das peças expostas e evitando a intervenção sobre elas, com conceitos de restauro que, com o passar dos anos, podem vir a mostrar-se negativos. Aliás, há muitos restauros de imagens fotográficas, feitas nas décadas de sessenta ou setenta do século XX que hoje, provavelmente, produzem efeitos mais negativos do que se não se tivesse realizado essa intervenção sobre a imagem. Talvez, apesar das várias origens e dos diferentes estados de conservação, se pudesse sim era uniformizar a impressão em termos de contraste e gama tonal, que em alguns casos deixa muito a desejar. Destaque pela positiva para o vídeo apresentado na exposição, não só pela informação nele contida mas, e especialmente, pela sua realização e pela dinâmica que introduz na exposição.

Único senão desta exposição é o seu destaque no local. Para uma exposição publicitada em vários meios de comunicação social, que implicou custos, não existe verba ou ninguém se lembrou de um cartaz, mesmo que à entrada, a anunciar a exposição? Enquanto estivemos no local, pudemos verificar que os inúmeros turistas que entravam nem olhavam para as referencias à exposição que se encontravam sobre o balcão de entrada. Justificava-se plenamente, até pela relevância cultural da exposição para quem visita Lisboa.

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