sábado, 26 de março de 2011

O Porto íntimo de Aurélio Paz dos Reis

exposições divulgação

Se não tivesse sido o introdutor do cinema em Portugal, realizando os primeiros “quadros” fílmicos do país, Aurélio seria seguramente evocado como participante dinâmico do 31 de Janeiro, como mação convicto da benemerência arriscada e, naturalmente como fotógrafo. O seu interesse pela arte da divulgação visual parece nascer como corolário do seu gosto estético: cultivava uma caligrafia floreada e talvez por isso foi encarregado de endereçar os convites para as personalidades do 31 de Janeiro, ensaiou o cinema e a fotografia e tentou um progresso modernista da publicidade, um cartaz luminoso e animado na Praça D. Pedro.

Republicano convicto e actuante associava a sua crença no serviço social ao progresso das Luzes, essas Luzes que o século XIX queria como suas. Percorrer os interiores que este fotógrafo de rua e de multidões distinguiu, leva-nos à sua fé nesse progresso que passa pelo ideal de saúde e sanidade da burguesia esclarecida, o desporto, a ginástica, os passeios salutares que completavam o montanhismo e, naturalmente o passeio de bicicleta que aliava tantas vezes a atenção fotográfica. Por isso mesmo a foto do Velo-club em Santa Catarina, dos Cirne Madureira acumula essa ânsia de ar livre, olhar fotográfico e elegância de instalações que o fotógrafo prezava.

Mas a estes primórdios do culto do corpo, Aurélio juntava a luta porfiada pela cultura do espírito que era ainda um esforço do programa republicano: não perde uma exposição de arte, um estúdio de artista ou a inauguração dessa pequena obra-prima que era a Livraria Lello. Cidadão da sua cidade, Aurélio fazia de si cidadão do mundo.

Maria do Carmo Serén

Este é o texto de apresentação da exposição patente no Centro Português de Fotografia, no Porto. Aurélio Paz dos Reis, fotógrafo e introdutor do cinema em Portugal, mas também floricultor, cidadão republicano e maçon, que participou no 31 de janeiro, o que lhe valeu dois encarceramentos neste mesmo espaço que agora acolhe o seu espólio fotográfico. As suas imagens revelam-nos a atmosfera de uma cidade romântica, agitada e dotada de uma extraordinária vida, espacialmente no campo do comércio, da cultura e da actividade política. Refira-se, a propósito, que Aurélio Paz dos Reis foi presidente e presidente substituto da Câmara Municipal do Porto, tendo falecido em 1931, depois de fotografar não apenas o Porto, mas também um pouco por todo o país.

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