quinta-feira, 5 de maio de 2011

World Press Photo 2011


exposições crítica

Até dia 22 de maio, em Lisboa, no Museu da Eletricidade, está patente a exposição World Press Photo 2011. Com uma solução arquitetónica interessante para a apresentação da exposição, que aparentemente rompe com o contexto do local, mas que é uma aparência, integrando-se volumetricamente nele, toda a montagem beneficia as imagens expostas, quer pela cor das salas, quer pela iluminação localizada. Esta é uma exposição cujas imagens saem também beneficiadas por uma boa impressão e por uma boa escala de ampliação, ainda que não necessáriamente adequada a todas elas. Prevaleceu aqui o sentido de conjunto e de evento que é a World Press Photo sobre os particularismos estéticos de cada i

Parece-nos uma exposição que inverte a tendência de outros anos, onde era dado particular ênfase à componente estética da imagem sem deixar de sublinhar a notícia. Na seleção deste ano o destaque vai para o conteúdo das imagens, com o vanguardismo estético a não ser tão evidente, mesmo com o recurso às novas tecnologias. No entanto, a verdade é que mesmo assim existem alguns apontamentos de ordem estética bastante interessantes, com vários exemplos em diferentes áreas. É o caso de Daniel Berehulak, da Getty Images, que recorre à luz e ao enquadramento para sublinhar um olhar moderno, ou de Olivier Laban-Mattei, cuja interpretação da luz é notável, ou de Daniel Morel que nos toca com a expressão daquela mulher no meio dos escombros, que se adequa ao arrastamento visível ou ao enquadramento escolhido. Outro exemplo, poderíamos encontrá-lo nos bocados de carne espalhados pelo cenário que Marco di Lauro registou, algo que em termos espaciais e pictóricos nos aproxima da pintura. Mais ainda, os extraordinários retratos de Keneth O’Halloran, que se impõem pela contemporaneidade do olhar do fotógrafo e pela inteligência da escolha do tema.

Algumas outras imagens nos merecem um particular destaque, como o momento certo em que Gustavo Cuevas, da agência EFE, capta a colhida do matador Julio Aparício numa arena de Espanha, ou a extraordinária beleza da luz que Andrew McConnel regista. Trabalhando para a Panos Pictures, Andrew McConnel faz da reportagem sobre o povo Saharaui um exemplo de como as imagens de reportagem podem conter aspetos fotográficos de rara beleza, que normalmente pensamos só poder atribuir a uma fotografia mais pensada e descontraída. A luz do vendedor de àgua em Dakhla ou a luz que ilumina Nagla lamin num autocarro em Smara, ou ainda a família no campo de refugiados de Smara são prova disso.

Mas esta é uma exposição com imagens que todos os dias vemos em jornais e televisões de todo o mundo. A morte ou as catástrofes estão presentes com toda a sua força e violência. A força da morte que nos mostram Altaf Qadri, da Associated Press, ou Ivo Saglietti, da Zeitonspiegel/Prospekt, tocam-nos não apenas pela imagem em si, mas porque nos fazem repensar o nosso papel no mundo. Um mundo, tão bem retratado por Martin Roemeus logo na entrada da exposição, ou que Javier Manzano nos atira á cara com a cabeça de alguém na berma de uma estrada.

Diz-nos David Burnett, presidente do júri em 2011, que “todos os meses de dezembro, quando o ano está prestes a terminar, fotojornalistas de todo o mundo passam alguns minutos – ou horas – a refletir sobre as fotografias que produziram nesse mesmo ano”. Para nosso deleite, acrescentamos nós, face às imagens que nesta exposição podemos ver. Bem executadas tecnicamente, onde é visível um prazer no ato fotográfico e no risco, e onde também se vislumbra uma constante procura de ordem estética. Juntemos a isso, o facto de não serem poucos os fotojornalistas que perdem a vida, para que nós possamos usufruir das suas imagens, sentados à mesa de um café, a ler um jornal.

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