sábado, 12 de junho de 2010

German Faces

Teve início mais uma edição da PhotoEspaña, que mostra alguns dos melhores artistas e produções mundiais, no que se revela, uma vez mais, como uma brisa de criatividade no campo fotográfico. Esta edição oferece-nos o último ano em que o português Sérgio Mah está como comissário da PhotoEspaña, ao mesmo tempo que nos traz até Lisboa o trabalho que Collier Schorr tem vindo a desenvolver, desde há cerca de duas décadas, na cidade alemã de Schwabisch Gmund. Americana de nascimento, a autora de German Faces mostra-nos um retrato da Alemanha, com recordações que remontam à Segunda Guerra Mundial, mas que ainda hoje marcam a sociedade alemã.

A exposição, patente no Museu Berardo, em Lisboa, mostra-nos uma multiplicidade de imagens onde, em todas elas, a escolha da escala é criteriosa e adequada a cada situação, onde cada pormenor é importante para a leitura do todo, onde os símbolos evocam um passado violento, absurdo e doloroso, mesmo que apenas situemos esse passado no tempo através das nossas informações, já que frequentemente as imagens parecem pairar acima da linha linear do tempo, mesmo que nos evoquem um conflito entre o passado e o presente.

Nestas imagens, onde ao lado das fardas e dos capacetes se encontram outras de uma beleza calma e contagiante (Hutte 2005), em impressões de grande qualidade e onde, especialmente na cor, se denota um olhar moderno muito presente na fotografia alemã contemporânea, pode vislumbrar-se a a própria artista. Na realidade, o que mais me impressionou nesta exposição foi a atitude de Collier Schorr, a sua forma de encarar a imagem sem preconceitos e onde ressalta o seu envolvimento com as imagens que produz e sente (Composição #12-2008 e Composição # 15-2008). Destaque para a coerência estética que se vislumbra, ainda que aparentemente não seja visível na variedade de abordagens presentes. Disso são exemplo o tratamento do corpo (Sunbather 2005 e Kate Asleep 2006) ou algumas composições (Kurbis Gemalde 2007 e Composição #15-2008) onde é notória a impluência da pintura. Collier acaba por ser mais do que fotografa, ao tentar compreender a sociedade que a cerca e ao apresentar-nos imagens e histórias que se cruzam e que nos ajudam a ir mais fundo nessa compreensão, reflectindo sobre cada momento ali presente. Tal, só é possível tendo por base a sua integração na sociedade que nos mostra. O espaço visível apresentado nesta exposição é “apenas” uma parte do todo, composto por objectos e pessoas, mas também por sentimentos, pesadelos e momentos de prazer, num tempo sem tempo, numa realidade que tem muito de psicológico.

Uma palavra final para a montagem da exposição. Pela positiva, realce para a forma como se conseguiram articular diferentes formatos e conjugar a fotografia com a imagem em movimento ou com a colagem e o desenho. De negativo a legendagem, desastrosa no minímo, que tem de merecer mais atenção. Colocar legendas junto a uma imagem não deve ser um acto acrítico. Numa exposição desta responsabilidade não é admissível estar a ver uma imagem a cor e ler na legenda como sendo a preto e branco (Empire 2008) ou estar perante uma imagem intitulada de Octopus (polvo) e ver um conjunto de melancias sobre uma mesa, por sinal uma das melhores imagens ali presentes e que afinal tem tem outro nome (Kurbis Gemalde).

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