segunda-feira, 25 de maio de 2009

Batalha de Sombras


Está patente, até 14 de Junho, no Museu do Neorealismo, em Vila Franca de Xira, a exposição Batalha de Sombras. Esta é, em primeiro lugar, uma exposição pedagógica, essencial a todos quantos querem fazer fotografia para além da vulgar imagem de consumo rápido. É uma exposição que nos leva a reflectir sobre um momento da fotografia portuguesa com uma multiplicidade de caminhos estéticos então vividos.

Batalha de Sombras começa pelo salonismo, com a sua herança naturalista, onde marcam presença os foto-clubes, também eles uma herança do final do século XIX. A paisagem, tema recorrente neste género, segue uma tendência oitocentista com os seus apelos a uma luz melancólica, a paisagens simultaneamente poéticas e ingénuas e a céus dramáticos, que António Paixão tão bem soube interpretar (roupa a secar, década de 50), mas que também encontrou seguidores em João Martins, Varela Pé Curto ou Adelino Lyon de Castro. A par do salonismo podemos também olhar para as opções surrealistas da época, com a sua subversão dos valores culturais vigentes, autónomas dos circuitos fotográficos então predominantes, enveredando por uma linguagem abstracta, onde se nota a influência de trabalhos de Man Ray, muito mais recuados no tempo, prova de um certo atraso estético com que essas imagens se reflectiam na fotografia portuguesa. Também por ali se pode ver a força do movimento realista e da sua importância político-ideológica em imagens marcantes de sentimento e atentas às condições de vida das classes mais desfavorecidas e onde ressaltam nomes como Adelino Lyon de Castro, Franklin Figueiredo ou Varela Pé Curto (viúva da Nazaré). A exposição termina com a fotografia humanista, um outro caminho que a fotografia portuguesa da época experimentou, ainda que apenas devidamente reconhecido muitos anos mais tarde, através da Galeria Ether e dos Encontros de Fotografia de Coimbra, onde marcam presença Vítor Palla, Costa Martins, Gérard Castello Lopes, Carlos Afonso Dias, Sena da Silva ou Carlos Calvet. Louvável esta visão ampla que preside à exposição, onde está presente uma multiplicidade estética, por vezes reflectindo conflitos, num país, apesar de tudo, fechado e dotado de uma cultura fotográfica pouco dada ao debate.

A exposição, comissariada por Emília Tavares, é apoiada de um bom catálogo, bem organizada sob o ponto de vista arquitectónico e fotográfico, neste caso, organizada em grandes blocos, com autores e imagens bem seleccionados sob o ponto de vista exemplificativo de cada uma das orientações estéticas. Com um ritmo de montagem interessante e dotada de textos explicativos claros e objectivos, falha apenas no enquadramento do salonismo na política cultural do Estado Novo, por onde passa de forma mais superficial. É certo que no catálogo, com textos de excelente qualidade, este período é dissecado de forma exaustiva e também é verdade que não se pede o mesmo na exposição, mas a informação poderia ser um pouco mais completa neste período, especialmente para quem não adquira o catálogo. A exposição é ainda apoiada por um interessante apoio documental de livros e revistas, que ajudam a compreender o meio fotográfico da época. Refira-se que estas imagens, que integram a Colecção de Fotografia do Museu Nacional de Arte Comtemporânea – Museu do Chiado, foi iniciada em 1999, com a doação das obras fotográficas de Fernando Lemos, um dos nomes do surrealimo da fotografia portuguesa, doação essa feita pela A. T. Kearney, Portugal.

Por último uma palavra para o Museu do Neorealismo e para o seu serviço educativo que, com base num peddy paper conseguiu pôr crianças e adultos a olhar para as fotografias à procura de um nome ou de um pedaço de uma imagem. É um contributo para uma relação estreita entre o público e a imagem fotográfica, é uma forma de valorizar a fotografia e é  também uma das formas com que se pode ensinar a olhar para a Fotografia. 

 

1 comentário:

  1. sou de vila franca e acho que é uma boa razão para vir até cá.

    joão carlos

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