
Ao observarmos as suas imagens, para além do valor documental que estas constituem, podemos ver olhares e cumplicidades que só uma pessoa totalmente franca e ligada ao meio e às pessoas que fotografava podia ter registado. A naturalidade das expressões, sorrisos e gestos são hoje uma lição para quem acha que naturalidade é fotografar às escondidas, com objectivas de meio metro. Estas imagens são, principalmente, um acto de paixão. Mais, a simplicidade rural e mesmo a pobreza, nunca se aproximam da fronteira de um exotismo cultural, hoje tão traduzível pelo voyorismo com que se fotografam os pedintes da cidade, o desconforto no mundo rural ou populações geograficamente tão distantes quanto diferentes.
Por isso, esta exposição dá-nos também uma ideia da forma como Michel Giacometti olhava e interpretava a realidade que o rodeava. Descritiva, documental, com a preocupação de registar as pequenas coisas, que hoje se revelam de uma riqueza referencial, mas também onde se nota uma preocupação de compreender e respeitar as pessoas e as suas vivências. Giacometti teve a sorte de registar o fim de um ciclo político, económico e social, marcado pelo fim da predominância dos “ruralistas” sobre os “industrialistas” no seio do Estado Novo. É um ciclo que termina com a diminuíção da importância das "virtudes rurais" sobre os "vícios da cidade", onde a partir daí se aposta na indústria, o que é traduzível nos Planos de Fomento e nas construção de barragens, a par com o desenvolvimento dos serviços e do perímetro urbano das cidades.
Nesta exposição uma palavra para Luís Pavão, também ele fotógrafo e que está por detrás da recuperação dos negativos de Giacometti. Graças ao seu trabalho, pode observar-se com mais intensidade aquilo que Giacometti deve ter sentido quando efectuou as imagens apresentadas.
Até dia 17, no Museu da Música Portuguesa, Av. Saboia, Monte Estoril, Cascais.
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