quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Por cá...nada se move

Comprei hoje a Aperture, uma revista de fotografia a que dou alguma atenção. E confesso que fiquei triste. Fui atraído não apenas pelos trabalhos de Walker Evans, mas também pela fotografia compenporânea iraniana e pelos trabalhos de Nan Goldim. Até aqui nada de novo, é apenas mais uma (boa) revista com preocupações de mostrar coisas novas. Depois, lembrei-me que há uns dias tinha também comprado a Images Magazine e ali vinham duas excelentes reportagens, uma sobre a 8ª Bienal de Fotografia Africana, com imagens esteticamente inovadoras, além de uma excelente reportagem sobre a Paris Photo, de cuja edição de 2009 tive o privilégio de ver algumas exposições em finais de Novembro. O tema era a fotografia iraniana e dos países árabes, tendo sido apresentados trabalhos de grande valor conceptual e de uma abrangência estética notável.

E por cá? No campo da arte em geral há notícias animadoras e que revelam a existência de valores de projecção internacional. A directora da Experimenta-Design, depois de muitos anos a tentar convencer as entidades públicas do valor da iniciativa, foi convidada para comissariar a programação do La Gaité, um novo núcleo cultural em Paris. Isabel Carlos, directora do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian vai integrar o júri do Prémio Turner, em 2010.

E na fotografia? Tirando uma ou outra exposição, como a de Jorge Molder na Gulbenkian, da persistência de alguns fotógrafos, estou a lembrar-me de repente do nome de António Júlio Duarte, dos projectos irreverentes da Kgaleria, do trabalho persistente da Pente 10 ou do trabalho social e cultural do Movimento de Expressão Fotográfica, o panorama é desolador. Continuamos a apresentar velhas fórmulas já gastas de tanto vistas. Continuamos a fotografar como se estivessemos nos anos oitenta e nenhum mal daí viria se ao menos tivéssemos consciência disso e o assumissemos esteticamente.

Entretanto mudámos o governo. Pensava eu (ingénuo!) que também mudavam as políticas de apoio à fotografia. O Centro Português de Fotografia, que depende do Ministério da Cultura, vai fazendo algumas exposições como de uma qualquer galeria se tratasse. Não ensina a fazer ou a ver exposições. Deixou de apoiar a descoberta de novos valores da fotografia. Não sabemos quais as recentes incorporações de obras e espólio. Nada se sabe da orientação de projectos e a sua actividade continua restrita ao norte do país, apesar de nacional. Sabemos sim e vem hoje nas páginas do Público, que os estudantes de fotografia do Instituto Politécnico de Tomar estão acampados, no átrio principal da escola, em protesto contra a falta de condições no ensino da fotografia. Sabemos que os novos valores só são episodicamente vistos numa ou outra galeria ou em iniciativas como os Encontros de Imagem de Braga. Se quiséssemos falar de um movimento da nova fotografia portuguesa, talvez para apresentar em algumas iniciativas a decorrer em Paris ou Nova Iorque, não sei o que acharíamos para mostrar. É que por cá...nada se move.

3 comentários:

  1. O mal maior até não acaba por ser o facto de não termos nada de novo por cá. O problema é que os fotógrafos portugueses com "algum" nome dentro do país se acham os maiores do mundo. E não tendo nenhum valor, conseguem desenvolver um esquema que impede a produção em Portugal. É estupido, sim, mas é a verdade!

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  2. Não vou comentar directamente o assunto exposto, apenas deixar os meus votos de um excelente Natal e que este espaço continue sempre com a qualidade informativa com que nos tem habituado...

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  3. Ainda bem que há a coragem de por em palavras o que muitos pensam. Ás entidades referidas eu só acrescentava o trabalho notável que é feito pelo Centro de Artes Visuais / Encontros de Fotografia, em Coimbra. Aos Encontros de Fotografia e ao Albano da Silva Pereira muito deve a fotografia portuguesa, numa época em que víamos pouco o que se fazia lá fora e a ideia de produção de projectos ainda era algo vago. Os Encontros foram um dos mais significativos festivais de fotografia a nível europeu.

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