domingo, 25 de abril de 2010

A propósito da Cultura


Toda a gente já percebeu que a cultura pode dar um importante contributo à economia. Há cerca de um ano escrevemos neste blog que “a cultura tem de ser assumida como pilar de um desenvolvimento integral e sustentado do país, o que implica uma orientação política clara e com objectivos perfeitamente definidos, com isso optando por uma definição sobre os modelos de gestão a implementar, os meios necessários e os públicos a atingir.” Hoje a cultura está presente nas políticas europeias. Recorde-se que, enquanto expressão normativa da construção europeia, surgiu com Maastrich, em 1992. Por isso, existe uma Agenda Europeia para a Cultura, aceitando-se um conceito de cultura tanto referido à educação/formação dos cidadãos, como à identidade de um grupo como ainda se referindo aos bens patrimoniais de um país.

Há dias, foi publicado pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, um documento que conclui que o sector cultural e criativo produziu, em 2006, 2,8% da riqueza criada em Portugal, possuindo ainda uma relação directa com cerca de 127 mil empregos. Juntemos a isto o facto de existir também um significativo retorno social nas actividades ligadas á cultura. Também há dias, o Diário de Notícias, num texto de Maria João Caetano, nos informava que o Museu do Louvre, em Paris, em 2009, havia recebido 8,5 milhões de visitantes, logo seguido pelo Museu Britânico, em Londres, com 5,6 milhões e o Metropolitan Museum, em Nova Iorque, com 4,9. É evidente que tudo tem uma escala, mas não deixam de ser números impressionantes, ainda mais quando comparados com os 625 mil visitantes do Museu Berardo, os 403 mil da Fundação de Serralves ou os 197 mil do Museu dos Coches. É o mesmo Diário de Notícias que ainda refere 420 mil visitantes para a 2ª Bienal de Fotografia do Museu Quai Branly, em Paris.

No campo específico da fotografia, o aumento do número de galerias de arte e de coleccionadores, privados ou institucionais, a par com os novos criadores que surgem ou com outros que se afirmam, gera uma rede económica que deveria merecer uma maior atenção por parte de uma entidade chamada Centro Português de Fotografia, que existe e que não deve ser remetida à singela tarefa de arquivo ou de espaço de apresentação de exposições, por muito que tal tarefa seja importante. Há que fazer um levantamento da criação da actual fotografia portuguesa, apoiar e fazer circular produções, articulando fotógrafos e instituições, sejam elas galerias, museus ou outros espaços expositivos, ao mesmo tempo que se desperta a atenção de coleccionadores nacionais e estrangeiros. Toco aqui num ponto importante, os coleccionadores estrangeiros, primeiro passo para dar cotação comercial à fotografia e aos fotógrafos portugueses no estrangeiro, que é practicamente nula. Note-se, que os artistas são escolhidos por comissários e que estes não são imunes aos valores que a obra de um dado fotógrafo atinge no mercado, nem são insensíveis ao panorama e à promoção da cultura de um país. Sem divulgação permanente, os coleccionadores não conhecem, logo não arriscam a comprar.

O Estado tem aqui um papel importante ao apoiar estruturas que apostem na difusão das produções culturais, nomeadamente o apoio à circulação de exposições, assim como de comissários portugueses no estrangeiro, sem os quais dificilmente se escolhem e divulgam artistas nacionais, ou apoiar estes quando pretendem integrar o portfólio de galerias estrangeiras, ou ainda apoiar galerias nacionais que promovam lá fora os criadores nacionais. É verdade que isto implica mudanças de atitude, nem sempre fáceis de concretizar. Implica que a cultura passe a ser vista não apenas e só como erudição, mas também como uma actividade económica que pode estabelecer um diálogo com a indústria, o turismo ou o comércio, o que por si só implica que entidades públicas e criadores se interroguem sobre a sua actividade, o que significa uma colaboração entre a cultura e diferentes sectores económicos e sociais. Entre tantas comissões que se criam, haverá alguma dificuldade em articular os Ministérios da Cultura, da Educação e da Economia? É evidente que não se poderá aplicar a lógica do mercado a tudo indiscriminadamente, mas a situação actual é exactamente o contrário, o de um afastamento total da criação em relação ao mercado, excepção feita às galerias de arte. Resultados deste estudo indicam que, nas artes visuais, onde se inclui a fotografia, a taxa de crescimento em Portugal entre 1996 e 2005 foi negativa, de menos 37%, enquanto que na Europa, em igual período, a variação foi positiva em cerca de 81%. Dá que pensar.

1 comentário:

  1. Imaginem aqui no Brasil q a situação, se não é igual, é pior. Creio q muito pior. A cultura é apenas usada para movimentos artisticos e esta, é vista como algo voltado para poucos, infelizmente.

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