segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Morabeza

A desconstrução da imagem fotográfica enquanto processo criativo é algo que sempre seduziu os fotógrafos. Nada de mal existe nesse processo, criativo de resto, já que hoje e cada vez mais a fotografia ultrapassa as fronteiras do processo para se fundir com outras linguagens, seja o vídeo, a pintura, a colagem ou o digital. Desde que este experimentalismo não se confunda com a dita “arte digital”, normalmente sinónimo do kitch e do efeito barato-espectacular, nada há a opor a isso. Podem alguns argumentar na localização da fronteira, mas para mim ela é bem clara, quando se vislumbram os conceitos da estética mesclados com a expressividade intrínseca do artista. Também nada tem a ver com “gostar de” ou não “gostar de”. A arte é muito mais do que essa reação básica e a qualidade do objecto artístico é independente do nosso gosto.


É isto que distingue as imagens de Maria Adelina. Ao experimentalismo de um novo caminho, de uma procura de novas expressividades, junta conceitos que estão ancorados numa base estética que não deixa ultrapassar os limites com tecnicismos exacerbados, na sábia utilização do processo compositivo com base em trabalhos passados em preto e branco, na paixão com que se dedica a um projecto e, por fim, numa procura técnica e estética que evolui para novos campos. Tudo temperado com dedicação permite-nos sentir a vertigem da côr ao visitar Cabo Verde – Morabeza, na Livraria Arquivo, em Leiria.

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