terça-feira, 3 de agosto de 2010

A minha casa é onde estás

Neste verão de Agosto não deixe de ver algumas boas exposições que estão em Lisboa. Na Kgaleria A minha casa é onde estás, de Filipe Casaca, encontra-se patente ao público até 18 de Setembro.

É um projecto fotográfico baseado na intimidade, assumido como um todo, fruto de uma reflexão e não um somatório de imagens dispersas ao longo do tempo. No conjunto, constituído por 13 imagens, nota-se que estas surgem naturalmente, sem a pressão do tempo e sem serem encenadas, reflexo de um acto de prazer e de descomprometimento no fotografar, onde as decisões de composição são afirmações do momento e não de qualquer ideia pré-concebida, que afastam o autor de uma imagem mais formal e onde o enquadramento livre nos leva a advinhar sentimentos paralelos à fotografia.

Reflectindo a ambiência doméstica de um espaço partilhado por duas pessoas, tudo nos revela a intimidade que o autor se propõe transmitir: o corpo, mas também os espaços, os objectos ou simplesmente a luz ou os momentos, em imagens delicadas e sensiveis, onde se interpreta e mede bem a luz, onde conscientemente o autor não usou flash, de forma a sublinhar as formas e volumes que descobrimos ou imaginamos naquela iluminação intimista. Uma das coisas que sobressai neste conjunto de imagens são as opções técnicas tomadas conscientemente, e destas o recurso ao grão e a impressão contrastada sublinham o lado íntimo que o fotógrafo quer mostrar, como se existisse algo para lá desses pretos pesados, mesclados de brancos de luz, constituindo o uso de película e a ausência do uso de flash duas mais valias face aos objectivos propostos.

Este sentir é sublinhado pela escala, uma dimensão que nos obriga a aproximar, a ser cúmplices de cada uma das cenas ali representadas. Não são imagens que se impõem a quem as vê, são imagens que nos permitem espreitar para o interior dos espaços descobrindo um ambiente restrito a quatro paredes. Aproveito para sublinhar que na Kgaleria se vêem exposições onde a escala constitui um factor importante, não apenas de expressão de cada autor mas também expositivo, a que muitos fotógrafos deviam dar mais atenção. A escala de uma imagem deve ser consequência da mensagem, da linguagem estética do projecto e do espaço expositivo e não uma opção standartizada de moda e inconsciente.

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