quinta-feira, 21 de abril de 2011

BES Photo - 7ª edição


exposições crítica

Está patente até 13 de junho, no Museu Berardo, em Lisboa, a exposição referente à 7ª edição do BES Photo. A exposição reúne trabalhos inéditos de Carlos Lobo, Kiluanji Kia Henda, Manuela Marques, que venceu o prémio, Marco Macilau e Mauro Restiffe, numa edição marcada pela internacionalização do prémio a artistas de nacionalidade portuguesa, brasileira e dos PALOP’s.

Selecionados por um júri constituído por Delfim Sardo, curador e crítico de arte, Ivo Mesquita, historiador e curador da Pinacoteca de S. Paulo e Bisi Silva, curadora e diretora do Centro de Arte Contemporânea de Lagos, na Nigéria, do qual também foi fundadora, o BES Photo assume-se como o mais importante prémio de arte contemporânea em Portugal. Cada um dos artistas selecionados recebe uma bolsa de produção, sendo que o vencedor receberá um prémio de 40 000 euros. Refira-se que sendo já a 7ª edição deste prémio, foram vencedores das edições anteriores Helena Almeida (2004), José Luis Neto (2005), Daniel Blaufucks (2006), Miguel Soares (2007), Edgar Martins (2008) e Filipa César (2009).

Na opinião do júri, a nomeação de Carlos Lobo (Portugal), resultou da precisão da sua abordagem à fotografia de paisagem urbana. Na realidade, ao olharmos para as suas imagens vemos simultaneamente um olhar atento à realidade que nos cerca, mas também um olhar crítico, como se a selva do betão se juntasse aos comportamentos do Homem, capaz do melhor, mas também do pior. É um olhar esteticamente moderno, de quem se esforça por compreender essa realidade em imagens onde predomina a confusão e o caos pelos momentos retratados. Por vezes, sentimo-nos rodeados dos protagonistas das imagens como se de um filme se tratasse, o que esteticamente é muito interessante e resultado de um adequado uso da objetiva de distância focal certa com o enquadramento certo no momento certo e do disparo igualmente no timing preciso.

Kiluanji Lia Henda (Angola) desenvolveu o seu trabalho em torno da sua experiência da História recente de Angola, com apontamentos críticos e com abordagens distintas no todo do seu trabalho. A guerra e a paz marcam profundamente as suas imagens, como também está presente o esforço para compreender a sociedade pós-guerra civil com os seus traumas e pesadelos. São fotografias exuberantes, nervosas e cheias de tensão. Como se a memória da guerra estivesse sempre presente quando observamos aqueles espaços e aqueles objetos. É, como o autor assumiu ao Público, um trabalho político, mas também um trabalho com poesia. Nota-se neste, como em todos os trabalhos presentes nesta edição do BES Photo, uma grande preocupação com a escala certa, à qual cada imagem vai buscar um realismo suplementar.

Manuela Marques (Portugal), segundo o júri, recorre a uma poética de intimidade, mas aquilo que mais nos impressionou foi a importância de se pensar um projeto, de elaborar um conceito e de trabalhar sobre ele. Foi a partir daí que Manuela Marques se propôs em perceber como se poderia relacionar com uma cidade como S. Paulo, registá-la de forma íntima, como são por norma os seus trabalhos. São momentos precisos, discretos, em que por vezes não reparamos, aqueles que Manuela Marques regista.

Mário Macilau (Moçambique) destaca-se pela qualidade da sua representação social e cultural de Moçambique, numa abordagem que o situa entre a ficção e o documentário. É um registo mais documentalista na tradição do fotojornalismo moçambicano mas, o que se revela fotograficamente interessante, realizado fora das fronteiras do país, num bairro degradado dos arredores de Lagos, na Nigéria.

Mauro Restiffe (Brasil), usa a História da Fotografia como base da sua fotografia de paisagem, ainda que abordada de forma contemporânea e apesar de uma certa melancolia que é visível. O destaque do seu trabalho vai para a exposição Mirante, apresentada na PHotoEspaña de 2009, Abordagens demasiado distintas.

Não podíamos terminar este artigo sem destacar a qualidade de montagem das exposições apresentadas, que dignifica a iniciativa e permite olhar a Fotografia com outro grau de exigência.

1 comentário:

  1. Os trabalhos de Carlos Lobo e Kiluanji Kia Henda são claramente os mais interessantes. O resto é um imenso bocejo.

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