quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Transições


Transições
, de Manel Armengol, retratam um período de mudanças fundamentais vividas em Espanha, na China e nos EUA, em finais da década de setenta do século XX, estando patente ao público até final de Janeiro no Arquivo Municipal de Lisboa. Esta exposição é uma iniciativa da Fundação Foto Colectânea, entidade privada espanhola que se dedica, segundo as suas palavras, a estreitar a relação existente entre a criação e o mercado e que tem representados, entre outros artistas portugueses, Helena Almeida, Augusto Alves da Silva, Gérard Castello Lopes, Inês Gonçalves e António Júlio Duarte.

De Manel Armengol há que dizer que nasceu em Badalona, em 1949, tendo as suas fotografias preenchido as primeiras páginas de muitos jornais espanhóis e do resto do mundo. Conseguiu nelas um olhar pessoal e íntimo, que está presente em toda a exposição e que só um grave acidente de viação o obrigou, primeiro, a interromper a sua actividade de fotojornalista, depois, a mudar a forma de abordar a fotografia.  

Não sendo uma das grandes exposições que passa por Portugal, não deixa de ser interessante reflectir sobre as imagens ali presentes. Na época que é retratada, Espanha vivia a transição da ditadura para a democracia, abrindo-se ao mundo e a um intercâmbio cultural livre. Quando vemos Roupa estendida no Bairro Carmelo, Barcelona, 1976, o tempo remete-nos para a fotografia feita em Portugal na mesma época. Muito semelhante na técnica, muito igual sob o ponto de vista estético. Como evoluiu desde então a fotografia espanhola? Como evoluiu no mesmo espaço de tempo e em condições culturais e políticas semelhantes a fotografia portuguesa? A grande vantagem desta exposição reside precisamente aí, na comparação de uma evolução, o que, infelizmente, nem sempre evita o repisar das mesmas receitas, já gastas e ultrapassadas, mas muito vistas em sites e revistas, hoje, em Portugal.

Em Transições predomina um classicismo característico da época (Rapariga diante de uma montra, Pequim, 1979), não deixando de nos surpreender com bons apontamentos fotográficos de cumplicidade (Avô e criança em bicicleta, Xangai, 1979) ou de uma tridimensionalidade de planos em que o digital ainda não consegue ultrapassar o filme (O mestre e os seus alunos, Grande muralha, 1979). Nas imagens que nos são apresentadas não deixamos de sentir um país fechado ao exterior, estranho e desconhecido para quem o visita, que ao mesmo tempo deixa transparecer a vida simples e a curiosidade de quem é visitado (Rapaz olhando para dentro do carro, Xangai, 1979). 

Já nos EUA, em Nova Iorque, o que atrai o fotógrafo é o facto de na Grande Maçã ainda se poder passear e encetar uma conversa despreocupadamente com alguém na rua. É neste grupo que o autor apresenta, para a época, alguns laivos de modernidade que devem ser referidos (Deserto sinalizado, Texas, 1977 ou Coffee Shop, Califórnia, 1977).

Não poderíamos deixar passar despercebido este ressurgir do Arquivo Fotográfico de Lisboa, depois de um longo período de hibernação involuntário. Mais uma vez, como sempre aconteceu naquele espaço que nos seus tempos áureos já foi uma referência no panorama fotográfico, a exposição ali apresentada depende em muito da eficiência de uma equipa que, para quem conhece o meio, vive da paixão por aquilo que faz e que merece ser apoiada.

 

1 comentário:

  1. é interessante existir um blog para análise de exposições. é uma boa ajuda para quem gosta de fotografia e para aprender a ver

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