sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Breves histórias da China


Breves histórias da China, assim se chama a exposição de Paula Melâneo, na Delegação Económica e Comercial de Macau, em Lisboa. É um registo intímista pela interpretação muito pessoal da luz (Para lá da luz), com recantos de um romantismo oriental (À espera), onde está presente o choque entre o passado e o presente/futuro (Cidades inconstantes). Há na exposição registos mais simples, por vezes demasiado simplistas sob o ponto de vista fotográfico (Fechado ou Desenho), mas também há momentos simplesmente fantásticos (Superfície ou Momento 1). Em Superfície a imagem das tubagens perde pela dimensão adoptada que, numa outra escala, assumiria uma modernidade que faria dela uma das imagens mais significativas da exposição. 

Esta é também uma exposição bem pensada, o que se vê pelas opções de montagem adoptadas, com um bom ritmo e uma boa iluminação. É uma forma de contar uma história, a história de uma outra China da qual por vezes ouvimos falar, mas que raramente passa nos folhetos turísticos. Uma China verdadeira, sentida e vivida. Sublinho, vivida. Esta é a principal característica desta exposição. Paula Melâneo fugiu aos circuitos turísticos habituais, deixando-se encantar pelo "menos belo" dos bairros em extinção, mas que permitem o deambular da nossa imaginação pelas ruas e espaços retratados. Com isso deu-nos uma China simultaneamente mais humana e verdadeira, afastada da visão economicista que todos os dias chega até nós através da comunicação social. Como Álvaro Rosendo escreveu, estas são imagens que nos relatam o Caos e o Belo, ao mesmo tempo que nos propõem experiências aos sentidos.

À fotografia, enquanto forma de expressão artística, pede-se que transmita sentimentos e sensações. Não é fácil, até porque as imagens são compostas de pessoas e objectos que nos distraem, que se tornam, muitas vezes, uma embalagem opaca dessas sensações. Breves histórias da China consegue transmitir essas sensações, genuínas e verdadeiras, dando-nos a conhecer um país sedutor, ao mesmo tempo que, numa visão fotográfica moderna, nos mostra uma complexidade cultural acentuada pelas mutações sociais e económicas vividas nos últimos anos. 

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