segunda-feira, 4 de maio de 2009

Grátis - máquina fotográfica + formação

Só nesta semana que passou recebemos três regulamentos de concursos de fotografia. Até aqui nada de novo. O que é novo, ou melhor começa a deixar de ser novo, é a falta de respeito pelos fotógrafos. Às vezes essa falta de respeito é tanta que as entidades em causa bem podiam despedir os seus Departamentos de Relações Públicas e de Imagem. O primeiro destes regulamentos que recebemos era da Câmara Municipal de Ílhavo, tinha como tema “Olhos sobre o Mar” e afirmava no seu ponto 18 que “todos os trabalhos recebidos ficarão a ser pertença da organização” que se reserva do direito de impressão, reprodução ou publicação. Pouco tempo depois tomámos conhecimento da 5ª Maratona Fotográfica da Água, promovida pela EPAL e cujas inscrições se realizam (imagine-se) no Gabinete de Imagem e Comunicação da EPAL. Também lá está, no artº 6º - 1 que “ todos os negativos e fotografias (incluindo as digitais) ficarão propriedade da EPAL – Empresa Portuguesa das Aguas Livres SA, podendo ser utilizadas em publicações da Empresa”. Hoje recebemos mais um destes concursos, o da Feira de S. Mateus, em Viseu. Para não variar “a organização reserva-se no direito de utilizar os trabalhos distinguidos”. Afinal trata-se de um prémio ou de uma aquisição que um número indeterminado de imagens, que torna o seu preço unitário irrisório e passível de todo o tipo de utilizações? Na verdade está tornar-se mais compensador organizar um concurso de fotografia do que contratar um fotógrafo, com a vantagem de se dar um ar de "preocupação cultural". Um dos organizadores até teve a lata de nos informar que hoje, com o preço das máquinas digitais, é mais barato fazer uma fotografia, logo é justificada a utilização das imagens por quem dá o “prémio”. Direitos de autor é algo de desconhecido e o conceito e a mensagem, que são inerentes a qualquer trabalho, devem constituir algo de esotérico. Deduz-se também que quem concorre teve a máquina como oferta, junta com algumas objectivas e quanto á formação, ninguém precisa, ou paga isso – os livros são grátis, as visitas a exposições são dispensáveis e a aprendizagem é um dom com o qual já se nasce. Devem estes organizadores julgar que somos todos estúpidos. Só pode.

6 comentários:

  1. Muito bom texto. Deveria era ser tomado mais abrangente, tipo chegar aos "Nós por Cá" por exemplo.

    O texto tem uma pequena gralha, rapidamente corrigível: " junta com algumas objectivas e quanto á formação, ninguém precisa (ou paga) isso" (à formação)

    Cumprimentos,
    joom

    ResponderEliminar
  2. será corrigido.

    obrigado

    AL

    ResponderEliminar
  3. Não concordo muito com a reclamação…

    Existem no “mercado” vários géneros de concursos, uns mais prós (se o podemos afirmar) e outros mais básicos.

    Nos exemplos apresentados, a organização é honesta, as condições estão no regulamento, só participa quem quer…

    Também não me parece que uma organização quando pretende imagens de qualidade faça um concurso, mas sim que contrate algum fotógrafo (mesmo que o mesmo seja “de fora” o que também não costuma agradar).

    Temos actualmente cada vez menos concursos em que vale a pena participar (existe a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira e pouco mais, falando das que são exclusivamente de fotografia).

    Eu opto por não participar onde as condições de participação não me agradam.

    ResponderEliminar
  4. Eu sempre tive a ideia que varias instituições quando precisam de imagens para qualquer finalidade, seja publicidade, fazer uma publicação ou simplesmente para constituir um banco de imagens o mais simples (barato)é fazer um concurso... já há bastante tempo que vejo esses regulamentos anularem completamente os direitos de autor e por isso mesmo nunca participei em nenhum.
    Não concordo com o que diz o António Fonseca, acho que por mais amadores que possam ser os participantes no meio de tantas fotografias algumas terão qualidade suficiente. Muitas vezes nesses concursos as pessoas até pagam para fotografar... essa diferença de valores aparentemente compensa a falta de qualidade que o resultado possa ter quando comparado com um trabalho profissional.

    ResponderEliminar
  5. Não andaremos nós a chover no molhado e esquecer o que de facto é importante na "luta" pela fotografia portuguesa (aliás, um dos pontos positivos deste blog é precisamente a luta que leva a peito pela qualidade da fotografia em portugal), mas como ia dizendo, julgo que o importante é reflectir na distância a que as entidades responsáveis pela fotografia em portugal têm demonstrado e a sua perfeita incapacidade de reflexão sobre todo um conjunto de situações dentro do panorama fotográfico português, como por exemplo a falta de uma carteira profissional de fotógrafo.

    ResponderEliminar
  6. Terminou no mês passado um concurso de fotografia da AMI, intitulado "Olhar para integrar", em cujo regulamento também constava a exigência da cedência dos direitos de criação à dita instituição.
    Parece estar na moda, mas a culpa provavelmente reside no facto de hoje em dia haver uma necessidade de exposição (quanto mais mediatica melhor) da parte da população em geral. Será?

    ResponderEliminar

Todos os comentários serão previamente aprovados pelo autor do blog.