sábado, 18 de julho de 2009

Fotografia etnográfica - o ser humano: o indivíduo e o grupo



Fotografar pessoas é um grande desafio e ainda maior se torna, se às imagens tivermos de juntar a sua componente etnográfica.

Retratar os ambientes rurais, as gentes e seus costumes, já não é fácil de se encontrar nos dias de hoje, o que transformou este workshop do MEF- Movimento de Expressão Fotográfica, num momento único a não perder, durante dois dias na aldeia da Erra, em Coruche.

Numa recolha deste tipo, a componente sociológica que estuda o comportamento humano e as formas de comunicação em função do meio e os processos que interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições, teve de se apoiar no conhecimento dos mais velhos, que ajudaram bastante na montagem dos “cenários” que nos transpostaram para tempos que as suas memórias teimam em manter vivas.

O Rancho Folclórico da Erra, com uma disponibilidade total, reviveu e permitiu-nos fotografar o Homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico teve de ser organizado em áreas que indicaram uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados, como a “Antropologia Social e Cultural”, onde as interacções entre os indíviduos e os grupos deram origem a “cenários” como a taberna, a mercearia e a igreja, entre outros. Com trajes e posturas a rigor, os “cenários” foram-se desenvolvendo numa miríade de imagens cuja escolha do momento certo quase passava despercebida pela opção dos enquadramentos com o objectivo de criar harmonia no conjunto.

Neste contexto, nasceu o conceito “o ser humano: o indivíduo e o grupo. Esse indivíduo que se percebe no mundo, embora não de maneira clara e objectiva, começa assim a interagir e a interferir com o mundo que o rodeia. Neste sentido, podemos perguntar o que mais pode ser mencionado como elemento caracterizador do ser humano? Partindo da afirmação aristotélica de que o Homem é um ser político, podemos perpassar os diversos momentos da história do pensamento e verificaremos a constância de tal afirmação. O Homem é um ser social, vive e constrói o grupo para sobreviver. Entretanto isso não é tudo e nem é absolutamente verdadeira a afirmação da essencial sociabilidade do Homem. É verdade que se humaniza no grupo, mas, podemos dizer também que prefere o isolamento, algo que aparece reflectido na série fotográfica que apresento.

O MEF, mais uma vez, está na linha da frente na dinamização de workshops que agregam aspectos sociais/culturais às fotografias, o que as transformam em documentos vivos da nossa História, para além de pedagogicamente serem bastante úteis a quem quer aprender a executar correctamente este tipo de imagens.

Paulo JR Simões

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