quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Adegas - um olhar diferente


Se tiver alguns momentos livres e estiver na zona de Palmela pode, até sábado dia 19, visitar a exposição Adegas – um olhar diferente, presente na galeria da Biblioteca Municipal e da autoria dos fotógrafos Ana Carmo, José Carlos Nero, Mário Nogueira e Mónica Martins, do colectivo Projecto f4. www.projectof4.com/

É um interessante trabalho de levantamento fotográfico das adegas da região de Palmela, com a particularidade, assumida pelos autores, de não ser uma visão turística do tema, mas antes de um registo de ambientes que transmitem sensações pela luz e pelos objectos. É um projecto conseguido, ainda que ressaltem algumas fragilidades e a mais evidente é a predominância, talvez excessiva, de pequenos espaços e pormenores onde os autores se refugiaram. É uma solução fácil que, com poucas excepções deixando de fora os grandes espaços, mascara o patamar estético dos autores, independentemente de qual ele seja.

A primeira ideia que nos salta á vista é de que esta exposição é um trabalho sério e juntaria a esta classificação uma outra, a de um trabalho dedicado e muito sentido. É um trabalho que nos chama à atenção para a beleza das pequenas coisas, que tem olhares cuidados, onde está presente uma execução técnica rigorosa, traída em alguns casos pela irregularidade da impressão em papel. Um trabalho que talvez seja um exemplo para muitos fotógrafos e muitos outros trabalhos deste género a serem realizados.

Um dos aspectos interessantes desta exposição é a extraordinária conjugação estética entre todos os autores. De cada um, há que referir os ambientes bem conseguidos de Mónica Martins (Palmela 36, Venâncio Costa Lima 25, José Maria da Fonseca 32), onde a impressão laboratorial pode melhorar (Venâncio Costa Lima 25 e 26, José Maria da Fonseca 35). Talvez as irregularidades no campo laboratorial, eventualmente se devam às diferentes películas utilizadas, o que num projecto fotográfico é um erro. A película é algo que se define previamente em função do objecto final pretendido (grão, contraste, gama de tons, etc.) e que dá corpo e coerência técnica ao trabalho. Talvez também deva fugir de alguns formalismos mais pobres (Palmela 27 e 28) e se concentrar mais na beleza dos espaços que consegue captar (Palmela 36). Quanto a José Carlos Nero há que destacar o trabalho de luz e a excelente impressão, que traduz uma forma de olhar ponderada, não se dispersando no olhar e concentrando-se em ângulos reduzidos, como se a máquina fosse uma extensão do olhar, o que se vê na espectacularidade lumínica de algumas imagens. Diferente, porque mais formal, é o trabalho de Mário Nogueira, eventualmente fruto do grande formato (Palmela 16, Sivipa 20 ou Ermelinda Freitas 21), algo que nos faz lembrar lembrar a fotografia alemã da segunda metade do século XX. Destaque também para a visão alargada de Ana Carmo, uma autora que ainda que opte por soluções repetitivas (Palmela 39 e 40), parece ainda um pouco confusa nas suas opções estéticas, como que à procura de um caminho. Mas é alguém que se advinha poder vir a trilhar no futuro outros caminhos estéticos mais consistentes.

Um capítulo onde esta exposição falha é na sua apresentação visual. Ainda que com um painel de entrada que visualmente dá algum dinamismo, a forma como o tema foi abordado e especialmente a montagem, sublinham uma monotonia que prejudica todo o projecto. Compreendo a forma como as várias adegas foram agrupadas, nem sempre bem conseguida por causa dos formatos originais, mas não posso aceitar a montagem em linha, fotografia atrás de fotografia, como se fazia há muitos anos atrás, numa sala onde a iluminação indirecta também é monótona e com falta de vida. Talvez com outras imagens e em outra sala isso fosse o adequado, ali dá um ar de monotonia exacerbada e de algo dejá vu. Porque não jogar com imagens maiores a abrir cada adega ou a quebrar linhas de leitura? Porque não ter imagens que se possam montar em pares, ou em grupos, até porque os diferentes formatos assim o ajudariam? Ou seja, porque não dar um ritmo à exposição. Isso cativa o visitante e é importante para que uma exposição não seja um somatório de imagens.

Por último, o horrível livro de opiniões que muitos autores teimam em colocar nas exposições. Para quê? Para lerem baboseiras que em nada os ajudam, talvez. Um autor quando expõe, expõe-se no seu patamar técnico e estético. Mais nada. Se tiver que pedir opiniões, pede individual e selectivamente. Não vale a pena coleccionar opiniões generalistas, que pouco mais vão para além do “gostei muito” e da “exposição fantástica", num atestado de auto-redução da sua condição de artista.

3 comentários:

  1. Exmos Srs,

    Sendo eu um dos elementos do grupo autor da exposição aqui analisada, gostaria de deixar os meus agradecimentos pela visita e pela crítica. Estando nós a iniciar o nosso percurso artístico, toda a opinião fundamentada é extraordinariamente útil, e será motivo de reflexão por todos.

    Mais uma vez, os meus agradecimentos.

    Melhores cumprimentos,

    Mário Nogueira

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  2. Os meus agradecimentos também,pela vossa presença e observações.
    Até uma próxima oportunidade.
    Cumprimentos,
    Mónica Martins

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  3. Com análises destas aprende-se a não repetir erros. Bem hajam.

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