segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sangam

Até meados de Setembro é apresentada, no Museu do Oriente, em Lisboa, Sangam, de Carlos Cardoso. Mesmo que vá apenas para ver só a exposição, não deixe de visitar o Museu, que para além de um acervo rico e variado, é um exemplo de bem expôr e iluminar as peças em exposição.

Quanto a Sangam trata-se de uma exposição interessante, onde se apresenta uma visão da Índia que vai para além de imagens banais de um ocidental à procura do exotismo local. Na realidade, e embora se denote algum formalismo, eventualmente decorrente da actividade profissional do fotógrafo, mas coerente ao longo de toda a exposição, as imagens revelam-nos alguém conhecedor dos espaços, da cultura e das gentes que fotografou. Revelam também alguém que respeita o outro e o fotografa com dignidade, não procurando apenas o diferente. Por isso, naturalmente estas imagens afastam-se do postal turístico, colorido, para entrarem em algo mais pessoal, que o fotógrafo apresenta e assume como parte de si. Estas são imagens silenciosas e calmas, ao contrário do que por vezes imaginamos a Índia, onde os pormenores nos surgem como partes de um todo feito de sedutores grandes planos (a cidade das tendas K. Nagar 2007). Juntemos ainda a luz, ora suave, ora contrastada com a qual o fotógrafo consegue captar os ambientes e a vida nas ruas (Allahabed 2007).

Uma palavra para a iluminação feita de luz natural, o que é raro, mas que resulta com o tipo de impressão fotográfica apresentada, excepção feita a uma ou duas imagens em que a impressão laboratorial não está tão bem conseguida (Torres de Manikarnika e Caminhada para as Àguas Sagradas). Também um reparo muito positivo para a informação, quer no excelente texto de entrada, quer na ficha técnica, bem elaborada, e que demonstra que todos quantos participam numa exposição dão um contributo importante para o todo, algo que é frequentemente esquecido em grande parte das exposições.

Como únicos aspectos menos conseguidos nesta exposição temos a multiplicidade de formatos, que reduz a coerência do conjunto, e a legendagem de algumas imagens, onde a dimensão referida não se refere à mancha fotográfica, mas antes à moldura. Interessante é também a ideia de colocar uma pasta com imagens que o público manuseia. O prazer em tocar o objecto fotográfico era visível nos visitantes que folheavam o portfólio ali presente, criando uma relação intensa entre imagem e público, que rivalizava com as imagens colocadas nas paredes, apesar de a impressão laboratorial das imagens contidas na pasta não seja a melhor.

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