terça-feira, 12 de abril de 2011

Adelino Lyon de Castro - O fardo das imagens (1945-1953)



exposições crítica

É uma exposição que se aconselha, por dois motivos: permite-nos conhecer um período ainda mal conhecido da História da fotografia portuguesa e mostra-nos como não se deve montar uma exposição.

Esta é uma exposição que tinha tudo para ser um sucesso e é o que se pode dizer uma exposição de extremos – reúne o muito bom e o muito mau. Muito interessante é a reunião entre fotografia e pintura, uma ideia interessante, que recorre a aspetos comuns embora seja muito dissonante em termos de movimentos estéticos. Aliás, prova disso é que a partir logo do início da exposição de Lyon de Castro desaparece a pintura não se sabe bem porquê (o estar ali ou o desaparecer). Ficamos também sem saber o porquê da inserção de fotografias do romantismo de Paisagem no Choupal de Emilio Biel 1903, ou outras de autor anónimo e contemporâneas de Lyon de Castro, no início da exposição, desaparecendo em seguida.

É uma exposição com bons textos de parede, ainda que faltem folhas de sala que poderiam ser úteis, que situam o trabalho de Lyon de Castro no contexto cultural da época. Poderiam ser mais profundos e também situá-lo esteticamente na fotografia dos anos quarenta e cinquenta, nomeadamente no movimento dos fotoclubes e salões, do qual alás há alguma documentação na sala. Como se disse, há que destacar os textos em que inserem o seu trabalho no movimento cultural do país à época e na representação da realidade, uma realidade que até à década de cinquenta, por razões ideológicas, salientava o típico da pureza dos ambientes rurais em detrimento dos vícios citadinos. Não é verdade, como já se escreveu que o Estado Novo escondia este género de fotografia. Os pedintes e a desgraça marcaram a fotografia portuguesa até à década de sessenta, para não dizer mesmo até à década de setenta, com o beneplácito de uma estética que previligiava o “pobrezinho mas honrado” e onde o “povo” era o adereço preferido de mutios fotógrafos sem imaginação ou longe de correntes como o surrealismo, a fotografia humanista ou outras.

Adelino Lyon de Castro, tal como o seu irmão Francisco, apesar da sua postura política, de Homem que lutou contra a ditadura e a desigualdade, de cidadão que se preocupava com o outro era, fotograficamente um conservador. Talvez influência dos fotoclubes e do ambiente dos salões, e isso pode ser observado na sua composição fotográfica, rigorosa e cumpridora das regras clássicas, nomeadamente da regra dos terços ou da colocação de pontos importantes da composição nos pontos fortes. Era também um fotógrafo dotado de um sentido de harmonia fantástico (o que poderia ter sido explorado na sua junção à pintura), por vezes levado ao extremo e representativo de uma das correntes da época, assim como de um humanismo que transparece nas suas imagens, embora não se deva confundir a sua estética com a estética da fotografia humanista do pós-guerra. Exemplos disso podemos encontrá-los nos pobres e excluídos que se esforçam por aprender, o que, como muito bem se afirma num dos textos da exposição “colocar os trabalhadores e os excluídos como tema principal em todas as formas de expressão artística não fazia por si só a revolução, era necessário operar todo um processo de consciência da desigualdade social que só assim podia tornar verdadeiras e legíveis as .penas e fadigas do labor” . Mais ainda, as suas imagens são também um exemplo do bem fotografar e de compreender a luz (sem destino 1950-53 e sem título inv. 3155).

Por isso também a escala das imagens não é a mais adequada. Na época aquela era a escala usada frequentemente para provas, e vêmo-lo em alguns dos originais apresentados nas vitrines. Os salões e concursos pediam algo maior, normalmente cerca de 30x40 ou 50x60 cm e com uma impressão característica. Essa sim, deveria ter sido a escala adotada. Como esse erro não chegasse, tratou de em alguns casos se imprimir digitalmente duas imagens lado a lado e colocá-las em exposição, reduzindo ainda mais a escala. Embora não conhecendo o estado dos negativos, admitimos que a impressão em papel fotográfico poderia ter dado melhores resultados que a impressão digital, mais fácil para retoque e controle de luz, mais barata, mas não tão rica em tons. Aliás, é notória a falta de força nos negros, o que é pena. Como ainda não chegasse, quem entra na exposição e, percorrendo-a pela esquerda, vê a primeira e segunda parede e não compreende a montagem a partir do meio da terceira parede (em frente da entrada). Parece que daí para a frente existiu a vontade de despachar a montagem da exposição. Com uma sequência anárquica, ora espaçada ora aglomerada pelo tema, com uma legendagem sem lógica. Apenas a ideia de juntar imagens com um assunto semelhante,...o que é pouco. É impressionante, porque a esta montagem segue-se uma exposição de pintura portuguesa, que recomendamos vivamente, (Arte Portuguesa do século XIX 1850-1910) onde o ritmo da montagem agarra o visitante.

Como é referido a obra de Adelino Lyon de Castro permite-nos refletir sobre o papel da fotografia na representação do real e na sua relação com a verdade, no entanto, fica-nos a ideia de uma exposição apresentada de forma um pouco ligeira. Sabendo-se que 3500 imagens compõem o espólio de Lyon de Castro, o fotógrafo merecia uma melhor exposição, com uma maior seleção de imagens, uma melhor impressão e uma mais adequada montagem. Até 12 de junho no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.

1 comentário:

  1. fui ver esta exposição e concordo totalmente com o que está escrito. em alguns locais da exposição as fotografias estão ao monte. também não gostei de duas imagens na mesma moldura, mesmo havendo relação entre elas. é não compreender o trabalho do fotógrafo.

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