segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mercados com Rosto


Designa-se de mercados com rosto a exposição de Nicolau Wallenstein, presente no Centro Municipal de Cultura, em Ponta Delgada. É uma exposição interessante nas suas intenções e em alguns apontamentos, mas com alguns desequilibrios, demonstrativos de um percurso que o autor está percorrer superando a algumas fragilidades técnicas e estéticas. 

Em primeiro lugar há que louvar o sentido de projecto que o autor apresenta, com uma ideia de conjunto já com alguma reflexão, o que para uma primeira apresentação pública é de louvar. Juntemos-lhe ainda um outro aspecto positivo que reside no facto dos mercados não se restringirem ao que normalmente é visível para a maioria dos clientes, há armazéns, corredores nas traseiras, há a noite. É um mundo que nos surge para além do óbvio. No entanto, primeiro contra, como projecto parece-nos que merecia ser mais aprofundado, com situações mais variadas e inesperadas, que só o tempo proporciona. Viemos a confirmar, posteriormente, que o projecto se concretizou num espaço de tempo curto que não permite uma maior maturação estética. Apesar da boa utilização da luz pelo fotógrafo, onde se inclui um razoável domínio técnico da medição de luz, mesmo em situações difíceis como no caso de algumas altas luzes pontuais, a impressão laboratorial é desastrosa, originando fotografias com uma luz plana, sem vida e sem planos de profundidade. Conta-se com a ajuda da iluminação da sala, que disfarça a impressão e a plastificação (?) mate, desnecessária tecnicamente, prejudicial esteticamente. Aliás discordamos da apresentação das imagens sobre kapaline, normalmente uma opção mais adequada a imagens estéticamente menos formais. O formalismo adoptado era mais compatível com um formato menor, com recurso a moldura, que obrigasse o visitante a aproximar-se e com isso se tornasse mais íntimista. Opções que até seriam compatíveis com a solução apresentada, com uma apresentação mista, com imagens de maior dimensão, quando estéticamente mais arrojadas. Tal traria vantagens também no ritmo da exposição e evitaria que quando se observa uma das imagens não existisse a interferência visual da imagem do lado.

O tema, ainda que não inteiramente original, é interessante. Com ele o autor consegue alguns excelentes registos, como as mulheres do peixe (foto 4), ou dos bolos (foto 15) que, apesar disso, o fotógrafo poderia ter explorado mais. O desequilíbrio ressalta quando na mesma exposição se juntam duas posturas distintas por parte do fotógrafo. Em algumas imagens o autor parece um estranho naquele meio, passando tão despercebido que a relação com os fotografados se torna frágil e banal. Noutras, com excelentes registos, temos a cumplicidade do fotógrafo com alguns dos intervenientes, como nos casos atrás referidos e que poderiam ainda ser mais potenciados se soubéssemos os nomes. Para o visitante a identificação dá um toque de realismo à situação que tem à sua frente, que ainda por cima, pelos olhares directos, se apresenta esteticamente moderna e desafiadora. O desequilibrio também se nota na composição, eventualmente fruto de um percurso que ainda há que percorrer. Se por um lado existem imagens intensas e complexas, como no caso da imagem do homem das cebolas, onde os elementos que compõem a cena entram pelos quatro lados da imagem, por outro temos alguma falta de cuidado com os fundos, sendo disso exemplo a mangueira na parede da imagem da padaria que rivaliza com os personagens. Um outro aspecto a ter em conta será o de um uso mais consciente da profundidade de campo, que poderia destacar mais alguns os intervenientes e disfarçar aspectos menos interessantes do cenário.

 

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