quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Malick Sidibé

Por mais alguns dias está patente no Palácio Galveias, em Lisboa, a exposição do fotógrafo Malick Sidibé, promovida pela Hasselblad Foundation e integrada no festival doclisboa.

Nascido em 1936, em Soloba, no Mali, Malick Sidibé fundou o seu estúdio nos arredores de Bamako, em 1962, sendo hoje um dos mais conhecidos fotógrafos africanos em actividade. Premiado em 2003 pela Hasselblad Foundation, galardoado com o Leão de Ouro da Bienal de Veneza pelo conjunto da sua obra, em 2007, as suas obras foram já expostas em Portugal, em 2004, nos Encontros de Fotografia de Coimbra, organizados em por Albano da Silva Pereira. Juntamente com outro famoso fotógrafo do Mali, Seydou Keita, foi convidado de honra dos Encontros Fotográficos de Bamako, em 1994, encontrando-se as suas obras presentes em revistas como a Elle ou a Vogue, assim como em algumas colecções privadas.

O trabalho de Malik Sidibé mostra-nos a evolução dos costumes e dos sonhos de várias gerações. Através das suas imagens vemos como muitos cidadãos comuns ou elites queriam ser retratados e vislumbramos os valores inerentes a esses desejos. Através disso compreendemos os cenários e as poses teatrais, cheias de beleza e informação de carácter social, político e cultural. Simultaneamente são imagens que revelam o que muitos retratados queriam ser, traduzindo sonhos e ambições pessoais compartilhadas com o fotógrafo (cigarette and honoured, 1978 e three friend by the radio, 1979). Por isso, para além do valor documental das imagens, elas traduzem uma atmosfera de intimidade e de cumplicidade entre os retratados e o fotógrafo, bem patente em muitas das imagens apresentadas (already future lovers, 1975 ou a child in love with flowers, 1975). São momentos mágicos de um timing perfeito, que o fotógrafo consegue registar pelo olhar ou através de um gesto e que chegam a tocar o erotismo (seated woman, a tea lover, 1975). Em muitas, sente-se a presença de Seydou Keita (portrait in the studio, 1969 e view from the rear, 2002), o que não será estranho no contexto da fotografia local.

Ao mesmo tempo que estas imagens nos oferecem uma visão positiva e confiante da vida e de tudo o que a rodeia, a exposição assume alguns aspectos interessantes e que são de referir. Em primeiro lugar repare-se no grupo de retratos com os personagens de costas, qual provocação estética face aos cânones do retrato. Em segundo lugar as imagens propriamente ditas, onde a escala escolhida para algumas delas é a adequada e a fazer-nos lembrar opções da pintura de finais do século XIX. São também, na sua maioria, impressões de grande qualidade (the newly circuncised, 1983 e portrait of a Sarakoçé family at the Bamako mission, 1962), com informação plena nas altas e nas baixas luzes, infelizmente alternadas com outras menos boas, provavelmente originárias de negativos mais contrastados. Aliás, é visivel um desequilíbrio, na montagem e na impressão, entre as imagens existentes na sala da direita e as que se encontram na sala da esquerda.

A produção desta exposição soube compreender as imagens e o autor, ainda que numa galeria ingrata sob o ponto de vista da distribuição do expaço, da arquitectura e da iluminação, esta última apenas com a preocupação de despejar luz para cima das imagens. A montagem cuidada permite disfarçar estas limitações, num espaço que, se as entidades que o gerem quisessem, poderiam transformar num local de referência em termos expositivos. Apesar disso, é uma excelente exposição para quem queira conhecer África e aprender fotografia.

1 comentário:

  1. Estão disponíveis dois livros para consulta, mas era fundamental a existência de uma folha de sala. Apesar dos desequilíbrios já descritos acima, vale mesmo a pena ir ver.

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