segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O lugar do olhar

No Centro Português de Fotografia, no Porto, situado na antiga Cadeia da Relação mesmo junto aos Clérigos, está patente a exposição O Lugar do Olhar, de Joaquim Jesus. Este projecto, intitulado “Foto-grafia” assume-se como um regresso às origens da fotografia.

Porque é que a fotografia é a impressão da luz e não da sombra? Como é que a sua visão monocular pode assumir-se fiel à visão binocular humana? Porque é que a fotografia tem de ser o produto de uma máquina?

Certamente o espaço onde estas questões colidem é o do já sentido de Perniola, ou do não-lugar de Augé; um lugar que gera espaços de interacção com sujeitos que formam aí a sua identidade. Ora, uma questão que me parece situar-se no topo da lista de eventuais perguntas às imagens ou aos textos, é precisamente aquela que tem que ver com a sua verdade (Foucault). Que tipo de visão é suposto a fotografia permitir? Que representação lhe é impregnada de tal modo que se pretenda através dela fixar um olhar determinado sobre a realidade, ou, que tipo de identidade esse objecto pretende fabricar no observador?

O fluxo gerado, pelo impacto do questionar as nossas próprias representações, resulta no trabalho que aqui apresento. Uma série de imagens (imagini) reais, binoculares, sem máquina, e que registam a sombra das plantas e dos seres que habitam os jardins da minha mãe. Desenhos fotográficos, pinturas, fotografias, impressões…será a sua classificação essencial? Ou corresponderá mais um desejo nosso? Certamente, o confronto que estas imagens provocam, e o diálogo interior que daí advém, nos diz mais sobre a nossa natureza, do que sobre a natureza desta imagens. Inquietemo-nos…

Texto Centro Português de Fotografia

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